“Para grandes males, grandes remédios”, diz o povo na sua sabedoria, e dentro do Varzim cumpre-se esse aforismo. Depois do mal da equipa ter descido à Liga 3 (que tanto custou a digerir) de imediato foram postas mãos à obra para uma remodelação quase radical.
A seguir à eleição de novos corpos gerentes, em que se registou a continuidade de Edgar Pinho na presidência, vieram as obras no Estádio do Varzim, com o ‘dedo’ camarário… antes da projetada remodelação urbanística para o topo norte da cidade poveira, anunciada pomposamente pela entidade-mor cá da terra, e que abrange uma nova construção do setor nascente do Estádio do Varzim. Começou pela tão prometida cobertura total da bancada norte, de mistura com a remodelação dos camarotes na bancada poente, entre outros melhoramentos tão desejados desde longa data nesse sector. Veio a seguir o levantamento radical do relvado. Tudo preparado para uma nova temporada com rótulo de 3.ª, mas muito prioritária para que os anseios varzinistas não sejam tão beliscados como já foram. Uma espécie de bálsamo para curar ferida tão sangrenta.
Claro que neste caso o que mais interessa é a carreira da equipa envolta no carismático epíteto de Lobos do Mar. Sem ela a brilhar, não há vontade que possa ser cumprida, por muito ‘amor à camisola’ que haja nem ´alma varzinista´ que possa ser elevada ao alto patamar da glória.
Por causa disso é que foi feita uma remodelação praticamente radical dentro do clube. Desde a equipa técnica que passou a ser comandada pelo jovem (e praticamente desconhecido) treinador Tiago Margarido, mais os seus quatro acompanhantes, ao staff encabeçado pelo experiente André Geraldes, como diretor-geral, que conta a seu lado com três elementos de reconhecido mérito no meio futebolístico nacional.
Posto isto houve que cuidar do plantel para enfrentar o duro Campeonato que o Varzim vai ter pela frente. Foi registada uma remodelação quase total, para não fugir à regra de outras vertentes do clube. Saíram, até agora, nada menos do que 15 jogadores em relação ao plantel anterior, faltando ainda pequenos ajustes que podem ser resolvidos a todo o tempo. As entradas, para já, contam com 19 jogadores que se juntam aos 5 que renovaram contrato, entre eles os 3 guarda-redes, além de ficar renovada a permanência do jovem internacional Zé Carlos que, entretanto, pode mudar de rumo para reforço dos (sempre) depauperados cofres varzinistas. E tudo se encaminha para que até ao ‘pontapé de saída’ do Campeonato marcado para 21 de agosto, tudo esteja operacional, com o reforço físico-técnico obtido nos sete jogos de preparação previamente agendados para os meses de julho e agosto, com a Académica, Paredes, Paços de Ferreira, Varzim B, Salgueiros, Amarante e Tirsense, este o último teste a coincidir com a apresentação do ‘novo Varzim’ aos sócios, dia 13 de agosto, uma semana antes do início da nova maratona. À exceção do primeiro jogo-treino em Coimbra (7 de agosto), os outros seis foram agendados para o Estádio Municipal, onde o Varzim tem montada a sua ‘oficina’ neste preparar para nova temporada, graças às boas-vontades do município que vê nessa forma de atuar um motivo para dar ajuda ao clube mais representativo do ´reino poveiro’.
…E para rematar o rol de novidades no Varzim, foi criada a mascote, uma figura quase lendária dentro do clube, com raízes profundas desde os anos vinte, que simboliza um tarrote, o mesmo que dizer pardal, em tempo idos identificativo de uma luta Sporting da Póvoa/Varzim em que os verdes eram os pavões inchados (os de classe alta da terra) e os pretos uns pardalitos de pequena dimensão (identificados como a chamada ‘raia miúda’ poveira, igual a ralé ou a “camada inferior da sociedade”, como rezam os dicionários). Ao cabo de muitos anos de lutas renhidas e prenhes de rivalidade, os pavões perderam todo o esplendor das penas brilhantes (desaparecendo para sempre nos anos 40), e os pardais de cor acastanhada continuaram a sobrevoar o horizonte no seu chilreio, ganhando força nas gargantas para se vingarem, pelos tempos fora, e mais recentemente a servirem de símbolo das camadas mais jovens do futebol varzinista. Desta vez passando a ser venerados pela gente graúda e mais ainda agora que o seu símbolo vai percorrer os estádios por aí fora, tornando-se no ex-libris do clube, ao lado dos Lobos do Mar.
Resta esperar pelos frutos da sementeira que está a ser amanhada e… fertilizada. Como diria um devotado varzinista ‘que Deus já lá tem’, em momentos de mudança como este: “valha-nos Santo António e uma velinha a Nossa Senhora”. Talvez a questão de fé possa dar um ‘empurrãozinho´ às ambições varzinistas. Até porque ela (a fé) está bem estampada na denominação da tão carismática Lancha, autêntico símbolo poveiro. E pela amostra dada no dia do primeiro treino (que serviu praticamente como primeira apresentação do novo plantel), em que à volta de oito centenas de adeptos envolveram euforicamente os trabalhos e no fim deles, é de esperar que esse apoio se mantenha bem ardente ao longo dos tempos, para que esteja bem viva entre os varzinistas a velha lição popular de que “há males que trazem bens”. Oxalá.