Que de misterioso tem o Natal que, mesmo em circunstâncias adversas, somos levados a acreditar que este é um tempo especial!? Pelos Votos que formulamos? Pela estranha sensação de ‘dádiva’ que sentimos? Pela esperança de Paz que acalentamos? Pelos sonhos de, por um dia que seja, a afectividade, no convivio entre os homens se cumpra? Ou pela ilusão de, se não podemos voltar a ser ‘crianças’, felizes, o por instantes, o ser na alegria dos que ainda o são?
‘Natal, será quando o Homem quiser’, dizem os mais dados a acreditar na bondade humana. Todavia, os Homens, o bicho humano, qual irracionais, com estoicismo e perseverança, parece que verdadeiramente, isso não querem. A Paz, mesmo que caseira, nossa, não é negócio apetecível. Daí que, todos os Natais são iguais, todos os Natais são diferentes. Iguais, como iguais nascem os Homens. Diferentes, como diferente é o viver de cada Homem… esquecendo-se que existem outros homens.
E, se por força do calendário, ou não, por todo o mundo, Cristão, Católico, ou até indiferentes, ou diferentes na Fé, sendo este o tempo de Natal, é sempre o tempo da festa da Familia, o tempo da saudade. Saudade, esse sentimento muito português, intraduzível, amargo/doce, que com ou sem presépio, árvore simples ou colorida, presentes ou simples presença/ausencia, a todos toca, abana, perturba.
Sim! que essa coisa de ‘festa das crianças’, não passa de mais uma invenção, de uma bondosa desculpa. De uma fuga, dos que querendo ocultar a natureza da condição humana de adultos, da perda da inocência, escondem as angustias, os desencantos, os tormentos, próprios, ou que deixaram pelo caminho. É assim, na Paz ou na Guerra, na Terra ou no Espaço.
Natal, o tempo de Natal, é aquele tempo, aquela quadra, aquela noite que nos perturba, que nos faz doer a alma, nos culpa e desculpa, elegendo-nos como ‘crianças /homens de boa vontade’. Noite da Familia. Todos a teêm, é dela que são fruto, são as suas raízes, são o seu laço afectivo inscrito no ADN. Amamdo-a, ou simplemente a suportando-a, a presença/ausência, a memória da Familia, na noite de Natal, é uma ocorrência anual que envolve e toca até os mais impedernidos e despojados da vida – quantas lágrimas são vertidas no recondito da penumbra do estúpido amôr-próprio, da falsa hipocrisia de auto-suficiência!
Tempo misterioso este, onde a noite, de Natal, fugaz espaço de tempo, num tempo que, pelo turpor da noite, do silêncio das ruas, do brilhar das estrelas, das luzes que piscando, ganham outro cintilar, nos faz sentir frágeis, desprotegidos, carentes. E que, com saudade recordamos outros Natais!
‘Natal será sempre quando o homem quiser’! Que o Natal de 2017, apesar de tudo, e de todos os desencantos, com a vaquinha e o burrinho, ou sem eles, seja celebrado como um dia da Familia, como um misterioso momento de Homens de Boa Vontade.