Grécia. O acordo possível

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MÁRIO BETTENCOURT

Acompanhei muito de perto e com grande interesse a profunda crise na Grécia, que após longas e árduas negociações terminaram com um Acordo de Princípio anteontem. Naturalmente, que ficou bastante claro que todo o significado político-jurídico e económico- social que o envolveu, constituiu um processo de conflito de interesses e de solução extremamente difícil. Mas, o que veio a evidenciar, que é muito perigoso e que aqui já escrevi, foi que o espírito Europeu já não é o que levou GRANDES ESTADISTAS à Construção da Europa. Aconteceu, que pela primeira vez, existiu um documento escrito em cima da “mesa” das negociações que previa a hipótese do afastamento de um dos seus membros, a Grécia, ferindo os princípios da solidariedade e da igualdade de tratamento, que presidiram à sua construção.

O futuro do aprofundamento da Europa, que é sobretudo, um projeto político, ficou em causa. Abriu-se o precedente altamente trágico da sua desagregação. Também, mais uma vez, ficou a evidência que o real e verdadeiro PODER está em Berlim, com Ângela Merkel e o seu Ministro das Finanças Schauber, já que o que consta no Acordo de Princípio, foi em grande medida por eles apresentado.

Não foi o Governo Syrisa o primeiro culpado do estado atual da Grécia, embora o tenha muito agravado. É um fato que a derrocada começou em 2009, com quatro Governos, a ocultação de dados macroeconómicos, oito planos de austeridade e dois de assistência, o que demonstra bem o caminho que tem vindo a seguir, gastando mais do que deveria, ficando refém do crescimento da dívida … e o Povo Grego a sofrer… Se é verdade que em 2015 a Grécia já tinha uma dívida insustentável, com a eleição do Syrisa ficou num caos., dado as suas promessas eleitorais desajustadas, totalmente irresponsáveis e irracionais. Acresce, que a grave situação também é uma consequência da inércia europeia na correção dos seus desequilíbrios estruturais e da inexistência de instrumentos para prevenir e resolver crises.

O que aconteceu na Europa com as negociações entre a Grécia e os restantes Membros Europeus foi um preocupante, degradante e triste espetáculo. E, tudo começou quando Alexis Tsypras e o seu Ministro das Finanças Yanis Varoufakis pretendiam concluir a quinta e última avaliação do segundo resgate, já com o novo pacote de austeridade exigido pelos Credores, por causa das promessas eleitorais do Syrisa.

Houve várias reuniões, com muitos avanços e recuos e quando parecia que poderia haver Acordo, Tsypras resolveu, unilateralmente, avançar para um Referendo no Domingo, dia 5, para salvar a face e não ficar com o ónus do incumprimento das suas promessas, com o SIM ou NÃO às propostas da Troyka. Ganhou o NÃO, com o gravíssimo erro político/estratégico quase suicida, de apelar ao NÃO. Poderia evitar qualquer tomada de posição. E apelou ao NÃO, dizendo que ficaria com mais força e poderes de negociação. O que aconteceu, foi exatamente o contrário, pois apesar de lhe dar maior força democrática, como ele dizia, é- o, apenas para consumo interno, só para dentro da Grécia.

Resultou exatamente no contrário, pois naquelas circunstâncias sempre assim o seria. Muita falta de experiência política. Se a fluidez entre os NEGOCIADORES já não era boa, tudo piorou para a Grécia. Houve uma reviravolta. Muito aumentou a desconfiança e a própria boa fé do Eurogrupo e Líderes Europeus, o que é sempre negativo, para com os negociadores Gregos, AlexTsypras e o agora Ministro das Finanças Euclid Tsakallotos, mais comedido do que Vauroufakis, que ficaram sem capacidade negocial e força reivindicativa.
Devo dizer, entretanto, que já no dia 28 do mês passado os Bancos Gregos fecharam as portas, só podendo ser levantado € 60,00 euros por dia no multibanco, e no dia seguinte, a Grécia entra em incumprimento, porque não paga ao FMI 1, 5 mil milhões de euros e vive-se na Grécia um ambiente muito tenso.

As Negociações multiplicaram-se no sábado e no domingo, tendo terminado já na segunda-feira, logo de manhã, com um Acordo de Principio para um TERCEIRO RESGATE, com a exigência da Alemanha para a introdução de novas medidas, pois as últimas apresentadas pelos Gregos, já não eram suficientes, dado que as condições da Grécia, com o arrastar das negociações, terem-se deteriorado. Não foi com certeza o que a Grécia desejaria, mas o possível. E, assim evitaram o “Grexit”. Devo realçar, que só haverá formalmente negociações para o novo Programa de Resgate (3º.), depois de o Governo Grego legislar nas matérias acordadas.

Posteriormente, todas as decisões da solução para a Grécia terão de ser ratificadas pelos Parlamentos Nacionais da Alemanha, Eslováquia, Estónia, Finlândia Holanda e Polónia.
Gostaria de referir o papel importante neste processo, de Merkel, Hollande, Junker, Draghi, o Presidente do Eurogrupo e do próprio Tsypras, embora inexperiente, mas o verdadeiro “trapezista”, o verdadeiro “artista”, na defesa doa Gregos, os seus mandantes. É minha convicção que Obama também deu uma grande ajuda.
Seja esta hora, mais um passo no caminho Ideal a que todos os Europeus aspiram, uma Europa com o espírito que levou à sua criação.