Na freguesia da Estela, “a tradição do teatro já é muito antiga”. Segundo Alberto Costa, ensaiador do Grupo Independente da Estela, “tem talvez 100 anos de existência”. Para manter vivo o costume, o Grupo organiza pelo menos uma peça de teatro por ano, mas as restrições da pandemia pararam os ensaios em março do ano passado.
Alberto Costa começou a representar antes, mas integrou o Grupo Independente “como ensaiador e ator” em 1982. Comenta que o teatro sempre foi uma atividade muito presente na vida dos estelenses, “desde os meus avós e pais”. Há trinta anos, “a batata quente passou para mim”, sorri.
Antes de ingressar no Grupo, “já existiam outras pessoas que faziam teatro”, no entanto, “o pessoal já era mais velho que nós e, na altura, estava um bocado farto de andar nestas coisas”. Por isso, foi a geração mais nova que continuou a tradição. “Nunca mais parei”, afirma Alberto. O ensaiador lembra-se que a primeira obra que adaptou foi o Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco. Depois, passaram pela Vida de Cristo, pelo Mártir do Degredo, O Louco da Aldeia, As Duas Órfãs, e muitas mais. Ao longo dos anos, nota que “fizemos várias peças, mais drama do que comédia”. Todos os anos, o Grupo ensaiava uma peça nova e, quando chegava a altura de a apresentar ao público, “corríamos muitas freguesias, não tanto no concelho da Póvoa, mas fora”.
Alberto acrescenta que “é muito gratificante, depois de tantos meses de ensaios”. A nível local, na Estela, participavam nas comemorações da freguesia, a 7 de julho. “Andávamos um mês a fazer representações”, refere. Na altura da Páscoa, era comum prepararem um teatro de rua sobre a Via Sacra, que, segundo Alberto, “era um espetáculo”. Diz ainda que “o pessoal vinha de outras freguesias ver” e, às vezes, “era uma multidão de gente tão grande que até dificultava a representação”.
As dificuldades pela paragem da atividade
Hoje em dia, essa parte não tem sido possível. Desde março, o Grupo Independente “parou completamente”. O ensaiador conta que “estamos mesmo sem fazer nada”, embora o mesmo tenha “já alguma coisa preparada para quando a gente puder avançar”. O setor da cultura foi um dos mais afetados pela pandemia, mas, segundo Alberto Costa, por serem “um grupo amador” e porque “trabalhamos sem fins lucrativos”, “o que sentimos mais na pele foi mesmo parar”. Outra dificuldade atual do Grupo, e esta sem correlação direta com a pandemia, é a falta de participantes. Em anos anteriores, chegaram a realizar peças “que gastavam 37 personagens, como As Duas Órfãs”. Atualmente, “ainda se arranja pessoas, mas não é com a facilidade daquela altura”. De acordo com os cálculos do ensaiador, neste momento pode contar com “cerca de 16, 17 pessoas”. “É difícil, é preciso gostar mesmo disto”, afirma.
“Só o facto de nos abrirem portas já é de louvar”
Alberto Costa conta que, desde que é ensaiador, “ainda não foi reconhecido com a Carta de Couto”, mas há uma razão para tal. “Eu era um dos que dizia que não se devia dar a Carta este ano a uns, o outro ano a outros”, expõe, até porque “sendo assim, passava a ser uma coisa banal”. Não receber a Carta de Couto, no entanto, não significa que a Junta de Freguesia não apoie o Grupo Independente. “Só o facto de abrirem as portas para a gente poder expandir-se mais um bocadinho é já de louvar”, segundo Alberto, “só tenho de dizer bem da Junta e da Câmara”. Quanto ao futuro do Grupo, Alberto Costa não impõe metas. “A minha ideia é sempre a mesma: ir fazendo peças, acabar uma e começar outra”, declara. Quando for possível voltar aos ensaios, pede que os jovens “nunca se esqueçam de dar valor ao teatro, porque isto na Estela mantém-se desde há 100 anos. E isso é muito bonito”, admite. E para a freguesia no geral, diz que “o meu maior interesse é que não nos mandem para trás, ao menos que aproveitem o gosto que temos pelo teatro.