Luís Rainha … o centenário de ‘um Poveiro memorável’

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JOSÉ ANDRADE

Que o Senhor Doutor Luís Rainha, que sábado passado, se estivesse vivo, comemoraria cem anos, foi ‘um Poveiro memorável’, penso que ninguém que conheça a história desta bonita cidade onde o ‘mar bate na areia… e sorri’, pode, com seriedade, dizer não saber. Mas, tal acontecer, para mal do ‘distraído, não se aplicaria aquilo que um dia alguém disse, ‘um povo que não conhece a sua história…está condenado a repeti-la ‘. A Póvoa agora é outra, outros tempos. Outras as vontades. Daí que tendo a Póvoa história, ela é irrepetível. Pelo tempo, pelos tempos que agora são outros, pelo espaço, e porque ‘já não se fabricam’ certo tipo de homens, personalidades. E personalidades como a do Senhor Doutor Luís Almeida Rainha, com o seu percurso de vida, a sua entrega à cidadania, no presente, seria coisa excêntrica. Ser culto, filantropo, caridoso, empreendedor, é um modo de ser e estar, nos tempos que correm, sinais de ‘suspeita perigosidade social’. E então se isso for feito com o nosso dinheiro, respeitando aquilo que os outros nos confiaram, partilhando dúvidas!?

A Póvoa tem História, e tem estórias. Mal contadas, umas tantas, mas tem História de que se pode orgulhar. Uma História feita de gente que muito deu à terra, às suas gentes, ao peculiar modo de ser, sentir e viver. Lastro de dignidade, próprio da gente nascida e criada neste mar da Póvoa, ou por ele e ela enfeitiçado. Gente de altiva dignidade, a mesma que levou um dos seus filhos a dizer ser um ‘pobre homem da Póvoa’. Mas a Póvoa, do mar, aquela Póvoa que viu o Senhor Doutor Luís Almeida Rainha nascer, crescer e o formatou para vida, essa Póvoa, essa, graças a muitos dos actos de cidadania, essa Póvoa é, felizmente, irrepetível.

O Senhor Doutor Luís Almeida Rainha, só foi ‘um pobre homem da Póvoa’ na generosidade com que sempre serviu a sua terra. No altruísmo com que defendia as suas gentes mais humildes. Na bondade com que partilhava as necessidades de quem consigo se cruzava. Foi um humanista, no tempo em que o significado não servia como jargão de demagogia e desculpa política. Foi solidário quando os costumes cultivavam a ‘caridade’ enganosa. Mente livre e aberta, perturbava a tacanhês disfarçada de fato e gravata, com caneta na lapela e jornal debaixo do braço. Conhecia mundo, e do mundo sonhava com o que de melhor podia elevar a sua Póvoa. A muito digna e participada cerimónia da comemoração do centenário do seu nascimento, acto que teve como corolário a apresentação, na Fundação que legou a suas expensas, à sua cidade, de um livro, trabalho editorial de incontornável qualidade, obra que do notável director da Biblioteca Municipal da Póvoa de Varzim, Manuel Costa. Sucessor do saudoso Manuel Lopes, na direcção da Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, o dinâmico Manuel Costa, coordenou a obra, ‘Luís Rainha – 1915/2012 um Poveiro Memorável’, um livro, um pequeno tratado de história contemporânea, que esteve à altura da dignidade do celebrado e dos celebrantes. Se honrando os mortos, celebramos os vivos, celebrando a memória deste ilustre Senhor da Póvoa, o Doutor Luís Almeida Rainha, honra-mo-nos enquanto cidade viva.