“A estratégia não é a consequência do planeamento mas o contrário, o seu ponto de partida.” – Henry Mintzberg
Pressentimos que estamos num período de forte ajustamento e transição, enfrentando tempos de enorme complexidade e incerteza. Ainda antes da pandemia já as empresas, a administração pública e as comunidades confrontavam-se com a urgência de alterar o paradigma. A pandemia apenas veio acelerar essa transição. Aceleram-se processos de transformação organizacional, investe-se em digitalização, os consumidores digitalizam os seus hábitos de consumo, a sustentabilidade ambiental e o equilíbrio dos ecossistemas passaram a ser um vetor essencial em qualquer projeto. Não dissociado deste enquadramento emergem tensões regionais, cresce o nível de ameaça bélica e assistimos a movimentos demográficos significativos com pressões nas fronteiras europeias e necessidades de assistência humanitária crescentes. Os múltiplos avisos que temos recebido da ONU – muito particularmente do seu secretário geral António Guterres – são claros. O caminho faz-se pela cooperação e solidariedade que estejam abertas à multilateralidade de países e regiões. Só assim conseguiremos construir um mundo melhor.
Qualquer liderança – pública ou privada – necessita desenhar caminhos e dar um referencial estratégico para um período suficientemente longo que permita mudanças estruturais, mas não tão longo que impeça a concretização de um plano operacional de execução.
Neste enquadramento fomos desafiados pelo Presidente da Câmara da Póvoa de Varzim a participar de forma muito significativa na construção do plano estratégico do Município. Acresce que o convite não introduziu nenhuma restrição, condicionamento ou plano pré-estabelecido. Total liberdade criadora, total responsabilidade e, claro, total abertura para o poder político acolher ou rejeitar as nossas propostas. Seria porventura mais fácil e mais isento de risco pessoal recusar a colaboração, mas isso significaria desperdiçar a oportunidade de contribuir para a nossa comunidade, para o nosso concelho e para os poveiros (todos, sem exclusão nem discriminação). Dar o passo em frente foi a afirmação natural de quem quer estar ao serviço da comunidade e que procura estar do lado das soluções construtivas.
No âmbito dos fundos europeus que se avizinham e mais concretamente na necessidade de apresentar uma proposta municipal que integre parte das verbas (a cabimentar no Programa de Recuperação e Resiliência) iniciámos trabalho com entusiasmo, mas cientes da importância do mesmo. Após a necessária due diligence e análise de benchmark concordámos que deveríamos apresentar um plano estratégico que fosse fundamentado nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e assente em quatro pilares – 1. Coesão Social; 2. Vitalidade Económica; 3. Ambiente e sustentabilidade; 4. Cooperação Institucional, Externa e Digital.
A partir destes quatro pilares desdobrámos o plano num conjunto de eixos prioritários, mais concretamente dificul, que mereceram posteriormente a devida orçamentação num valor total de 213 milhões de euros para um horizonte de dez anos de execução. Este desdobramento é indutor de uma organização sistemática, que deverá ser preparada pela Câmara Municipal com a colaboração das diversas instituições do Concelho, por forma a permitir a elaboração de planos de acção concretos que no espaço de uma década consigam transformar o concelho e torná-lo mais competitivo, sem perder a sua distinta identidade cultural e social.
Não é nosso objetivo apresentar exaustivamente aqui o plano estratégico 2020-2030. É nossa expectativa que num futuro próximo a Câmara Municipal inicie um processo de apresentação pública do mesmo pelas várias entidades interessadas, intra ou extra concelho e inicie o processo de sistematização em planos operacionais dos vários eixos estratégicos recorrendo ao contributo de todos aqueles que pretendem apresentar soluções para os desafios do concelho.
Será motivador assistir à mobilização da comunidade, aos ajustamentos que os serviços e os colaboradores do Município encetarão para trilhar novos caminhos, sendo eles em si próprio os agentes de uma mudança suave, mas firme, para um paradigma de sustentabilidade, competitividade e inclusão.
Nos livros de história, uma década não chega a ser uma página. Faremos tudo para que esta década seja um livro na História da nossa cidade.
André Tavares Moreira – andre@tavaresmoreira.com
Edgar Torrão – edgar.torrao@sapo.pt
Miguel Pinto – miguel.pinto1@sapo.pt