MÁRIO BETTENCOURT
Portugal continua com uma grave crise económica/financeira, já não em cima do abismo, mas ainda muito próximo, com as falências e as insolvências a sucederem-se. Na proteção social, uma questão não menos central, prolonga-se o que vem acontecendo, ou mesmo piorou, com situações extremamente complicadas, aflitivas, chocantes, nalguns casos dramáticas e cruéis. É comovedor o empobrecimento, a miséria e o desemprego a que os Portugueses chegaram. E assim, é determinante sempre distinguir o País dos Portugueses, o que normalmente, por razões diversas e diferentes os políticos não o fazem. Há um conjunto de valores que qualquer sociedade não pode abdicar.
O País e os Portugueses foram e são vítimas da “receita” da Troyka, que ignorava a verdadeira realidade Portuguesa e da inabilidade do Governo nas várias negociações e sua aplicação, indo mesmo, para além do exigido. Sempre fui defensor de honrar o cumprimento integral dos compromissos, mas o Governo por incapacidade e incompetência, com um rumo errado, não soube gerir o que lhe foi cometido, fazendo recair sobre os Portugueses uma austeridade desmedida, levando ao estádio em que nos encontramos. Como também não fez a devida, imperativa e prometida Reforma do Estado, para que houvesse um corte estrutural da despesa pública, para equilibrar os Orçamentos, sempre recorre à ”tortura” dos impostos sacando aos contribuintes, os Portugueses, uma carga fiscal violentíssima, quase os “afogando”. . . !
Portugal só melhorará com exportações de bens transacionáveis, investimento e crescimento económico, que trará mais emprego, travando a vaga duma nova imigração. O Governo só e apenas se preocupa com as finanças públicas, área que também considero bastante importante, mas comete um grave erro, ao esquecer-se, quase completamente, da economia real. Aqui, como em muitas outras situações, não pondera bem.
Qualquer que seja o Governo de Portugal no futuro, tem que criar e avançar com uma verdadeira e eficaz estratégia na defesa dos interesses de Portugal e dos Portugueses, porque com o atual nada se vislumbra . . . Nessa linha, para que essa situação tenha pleno vencimento, era importante que Zona Euro fosse reformulada e reorientada, porque é bem sabido que está organizada para os interesses da Alemanha, que com ela muito tem beneficiado.
Com um Governo que será sempre mais do mesmo, medíocre e esgotado, na impossibilidade de um abrangente, alargado no futuro ( PS, PSD, CDS ) – a “partidarite” é quase sempre negação do bom senso -, sou defensor de um Executivo com maioria absoluta, liderado por António Costa, político com grande credibilidade, com um perfil radicalmente diferente de Passos Coelho, maduro, experiente, bem conhecedor da vida e da realidade, com um trajeto consistente, visão estratégica, bem preparado e que já deu provas de bem governar. Aliás, já anunciou uma “Agenda para a Década” de 2015 a 2024, onde consta um bom diagnóstico do País, aponta um caminho, uma transversalidade de objetivos, onde assenta a necessária MUDANÇA para um Novo Ciclo Político de esperança para Portugal e para os Portugueses.
Como contraponto a Portugal, vou referir-me ao Syriza. Não sou seu adepto, mas reconheço e sublinho que a sua vitória nas eleições da Grécia foi positiva para uma Europa que se quer reorientada. Foi uma “pedrada no charco”, ou melhor, uma “pedrada na Europa”.
O novo Presidente da Grécia, Alexis Tsipras e o Ministro das Finanças, Yanis Varoufakis têm desenvolvido um trabalho audaz e notável ao tentarem conciliar o que foram as promessas eleitorais – que sabem não poder cumprir – e o que lhes é proposto pela Europa. Mas, querem que qualquer acordo lhes permita margem para investimento e crescimento, que quase não existe em Portugal, o que demonstra lucidez, competência e enorme responsabilidade quanto ao futuro, que considero bastante imprevisível, tantos são os contravapores com que têm sido confrontados. É determinante que em qualquer acordo o aspeto político esteja sempre presente. Mas, devo realçar que têm tido a compreensão de quem tem o PODER EFECTIVO na Europa, Jean-Claude Juncker e Angel Merkel, ao contrário do que foi a postura deselegante de Portugal e da Espanha.
Penso que todo esse “quadro” deverá levar a uma profunda reflexão e à recuperação do que foi o espírito Europeu inicial. A Europa tem uma História e deverá ser reposta a “Ordem” Europeia. É minha convicção, também, que Angel Merkl interiorizou que a partir da agora já não será tudo auto estrada. . .
Aguardemos o futuro de Portugal, da Europa e, já agora, o da Grécia.