Nesta crónica partilhamos uma síntese do plano estratégico do Centro do Clima, incluindo a motivação que nos anima, o modo como queremos operar, o que nos propomos construir, em que lugar e em que tempo. Terminaremos com a ‘arquitetura’ da rede colaborativa de transição que deverá suportar todo este esforço.
Fernando Pessoa, porventura o maior pensador português, dizia-nos “Esperar pelo melhor é preparar‑se para o perder: eis a regra. O pessimismo é bem grande, é fonte de energia.”
Este é o nosso mote. Esperamos o melhor. Acreditamos profundamente num futuro promissor para a Humanidade e queremos espalhar sementes hoje. Mas estamos conscientes do risco crescente de colapso ecológico e social que advém das alterações climáticas e de tantas outras ‘crises’ que nos assombram. Por isso queremos estar preparados para o pior e investir na resiliência das nossas comunidades, com toda a nossa energia. Apenas uma certeza: a transição irá acontecer, e podemos ser vítimas ou pioneiros. Escolhemos a segunda opção.
“É bom viver aqui!” E é para que continue a ser assim, mesmo em contexto de policrise global, que queremos fazer este trabalho. Para sermos resilientes. E para evoluirmos, aproveitando as oportunidades que estão subjacentes a todas as crises. Não é uma tarefa opcional, é algo que devemos aos nossos jovens, que perderam a esperança no futuro. É um legado que queremos deixar.
Póvoa de Varzim é um território de fronteira e diversidade onde nada falta e tudo se conjuga… o mar e a terra, o urbano e o rural, o tradicional e o moderno. Queremos potenciar e regenerar os recursos endógenos, em particular com vista a garantir a máxima autonomia energética e alimentar. Para isso apostamos na colaboração, criando sinergias entre os diferentes agentes que atuam no território. Queremos mudar práticas e sistemas, mas também gerar uma mudança cultural e de mentalidades. Mais do que definir caminhos, queremos estar devidamente equipados para navegar num mar de incertezas.
A nossa estratégia consubstancia-se na criação e dinamização de um centro colaborativo de experimentação em ação climática e resiliência comunitária (vulgo, o Centro do Clima), uma infraestrutura concreta que suporta e catalisa os esforços de desenvolvimento regenerativo. Trata-se de investir no saber-fazer, com projetos estratégicos tangíveis, de caráter demonstrativo e replicáveis, tais como comunidades de energia renovável ou infraestruturas verdes, azuis e castanhas. A par da regeneração e valorização dos recursos e dos serviços do clima, pretende-se investir numa governança inclusiva, na formação integral e na economia da partilha. É ainda essencial garantir a articulação com estratégias e instrumentos existentes.
O Centro do Clima, criado por protocolo em julho de 2023, atua em todo o território da Póvoa de Varzim, tendo a sua sede na Vila de S. Pedro de Rates. Assume-me uma perspetiva translocal e o desejo de uma maior articulação ao nível da bioregião. Após uma fase inicial de prototipagem de dinâmicas, internalização de processos e mudança de paradigma, em 2030 a Póvoa de Varzim já deverá destacar-se no ranking de ação climática e sustentabilidade, rumo à neutralidade carbónica até 2050.
No passado dia 15 de maio foi formalmente criada a “Póvoa em Transição – Associação pelo Clima da Póvoa de Varzim”, com o objetivo de gerir o Centro do Clima. Subscreveram a escritura fundacional o Eng. Aires Pereira, pela Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, o Dr. Paulo João, pela Junta de Freguesia de Rates, e o Dr. Luís Folhadela, pela associação Biopolis (Universidade do Porto).
“Póvoa em Transição” é mais do que um projeto, é um movimento de pessoas e organizações, alavancado pelo Centro do Clima, catalisado pelas Autarquias, dinamizado com base em parcerias. Destaca-se a necessidade de conquistar a confiança de agricultores, industriais e órgãos de comunicação social, pela sua influência; de empoderar jovens e as instituições de ensino e investigação, pela sua motivação; envolver ativamente as organizações não governamentais, pelas suas competências. Todos somos necessários.
Pedro Macedo, Centro do Clima