Agricultores da região enviaram uma carta à Câmara da Póvoa de Varzim alertando para o problema da erosão costeira na praia da Estela, que ameaça as explorações e coloca em causa 10 mil postos de trabalho. Por sua vez, a autarquia endereçou ela própria uma carta dirigida ao ministério do Ambiente, pedindo rápida intervenção.
“Se aquela barreira dunar for rompida teremos um problema muito sério”, começou por avisar Aires Pereira, presidente da Câmara, no final da reunião de executivo de terça-feira. “A atividade agrícola está bastante abaixo do nível do mar naquela zona e isso pode trazer enormes problemas para a sustentabilidade económica das mais de duas mil empresas e 10 mil pessoas que vivem deste setor nas freguesias de Estela, Navais e Aguçadoura”, referiu o edil eleito pelo PSD.
Nos últimos dias, a HORPOZIM, Associação Empresarial Hortícola sediada na Póvoa, interpelou a Câmara Municipal manifestando a sua “preocupação”. Foi com base nisso que a autarquia também se dirigiu ao Governo através de carta.
A HORPOZIM lembra: “O possível desaparecimento da proteção natural que constituem as dunas da praia de Estela colocará em causa a salubridade da água e a sua salinização inviabilizaria o seu uso de rega, mas mais grave do que isso seria a invasão da água do mar no vasto território cultivado, que estará abaixo do nível das águas do mar”, pode ler-se na nota.
“Seria catastrófico para a região, eliminando a fonte de sustento de muitas famílias, com consequências severas para a economia local. É de vital importância para o setor que seja assegurada a proteção costeira, de forma a evitar todas as consequências que poderão advir do rompimento das dunas, gerando de momento enorme desassossego aos nossos associados”.
“É preciso pensar numa resposta mais robusta”
Aires Pereira, por seu lado, lembrou que a evolução dos níveis de erosão verificados na praia da Estela motivou já diversas intervenções de contenção por parte da entidade que gere o campo de golf da Estela. Intervenções essas que, em devida altura, mereceram a análise, acompanhamento e aprovação dos serviços técnicos da Agência Portuguesa do Ambiente. Mas apesar da Estela Golf ter custeado operações como a colocação de sacos “sabemos que não é aos privados que cabe a proteção da zona costeira”, disse. Além de que “é redutor pensarmos apenas no campo de golfe, que faz uma barreira importantíssima numa zona onde tem havido um avanço substancial do mar e redução da areia”. “As soluções que a APA tem defendido são a colocação dos sacos mas é preciso agora pensar numa resposta mais robusta e ambientalmente equilibrada que permita proteger tudo aquilo que está a nascente do campo de golfe, ou seja, todas as áreas agrícolas que poderão ser facilmente inundadas, tal como a HORPOZIM deu nota, colocando assim em causa a sobrevivência económica da agricultura”.
Recentemente houve alguma limpeza e recobrimento com areia, é certo, mas “bastam umas marés mais desfavoráveis para se voltar ao mesmo problema”, continuou Aires, antes de concluir:
“Já tivemos reunião com técnicos da APA e estão em fase de estudo as soluções possíveis, mas é importante que a Câmara alerte para a necessidade desta intervenção. Com a espuma dos dias que vamos vivendo, as pessoas fazem ruído à volta disto, mas nós continuamos com um problema para resolver, que não se compadece com declarações ou fotografias mais ou menos inflamadas”, atirou, referindo-se às muitas reações que se multiplicaram nas redes sociais sobre este tema, incluindo de partidos locais.
Foto José Alberto Nogueira
Seja assinante do jornal: