Se houve matéria que nos últimos anos muito ocupou o panorama desportivo e nacional foi a constituição de SADs e SDUQs. Não pela devida atenção que deveria levantar na imprensa escrita (essa dedica-se mais a analisar os 4 foto-frames, analisados por 3 colunistas “independentes” sobre a intensidade do encosto à entrada da área), mas pela discussão que motivou em muitas assembleias gerais, a verdadeira casa da democracia das instituições desportivas.
Por imposição legal – para poderem competir nas Ligas profissionais – os clubes portugueses viram-se obrigados a criar sociedades desportivas, tendo alguns optado pela SAD e outros pela SDUQ. No caso do nosso Varzim, a SDUQ foi o método adotado. Tem a vantagem de concentrar o poder todo no clube, mas a desvantagem de não conseguir atrair capital. E, é aí que se deve centrar a questão.
Precisa ou não o Varzim de uma SAD? Para mim, a resposta é simples. Sim! E porquê?
O Varzim tem um reconhecido problema de serviço de dívida que muito pesa e limita o crescimento do clube, além de parcas receitas. As dívidas consomem uma parte muito relevante das receitas, e, como se costuma dizer, a manta não estica. Ou se tapa os pés, ou se tapa a cabeça. Ou seja, ou se investe no plantel, ou se investe na formação, ou se investe nas infraestruturas. Ora, para se poder investir em tudo e dar ao Varzim a dimensão que merece, tal só é possível com dinheiro. E, ninguém coloca dinheiro sem garantias.
No meu entendimento, o problema não se resolve com endividamento para reestruturar o existente, mas sim com a entrada de novo capital no clube. Capital esse que numa primeira fase permita amortizar as dívidas, investir num plantel competitivo, e, investir para dar condições de excelência à formação do Varzim. Na minha perspetiva – a prazo – voltando o Varzim a ser uma fábrica de talentos, o problema da sustentabilidade financeira estará acautelado e poderá garantir o tão ansiado equilíbrio competitivo. Desejavelmente, o(s) sócio(s) que entrasse(m) no projeto da SAD deveria(m) aportar aquilo que na gíria empresarial se chama “smart money” (dinheiro inteligente, o que na prática significa que além do capital, trazem também conhecimento e crescimento ao negócio).
A grande questão, portanto, não é se o Varzim deve criar uma SAD, mas sim, como deve o Varzim criar essa SAD (que estatutos? Que acordos parassociais? Que cláusulas de “opt-out” para o investidor?). E aí o processo deve ser acompanhado com o sigilo que as importantes negociações trazem, mas com a transparência necessária para que os associados se sintam confortáveis com o caminho. Deve, em meu modesto entender, o Varzim ouvir o Conselho Varzinista, os seus sócios com reconhecida experiência empresarial e preparar um processo que garanta um crescimento sustentado que todos tanto desejam.