Ultimamente, devido à grande crise mundial que estamos a viver, muito se tem falado sobre a necessidade de grandes reformas estruturais na economia portuguesa e na necessidade de diversificar as nossas atividades económicas. Claro que para minimizar o risco de uma crise nacional profunda, a melhor estratégia é “não depositarmos todos os ovos na mesma cesta”. O que é facto é que muitos ovos portugueses estavam na cesta do turismo.
No entanto, ao pensarmos sobre este assunto é bom notarmos que foi o próprio mecanismo de mercado que nos levou à situação atual. Claro que há e houve incentivos públicos de fomento ao turismo, mas grande parte do “boom” turístico que aconteceu em Portugal nos últimos anos deveu-se, principalmente, a incentivos privados. Muitos empresários portugueses começaram a ver oportunidades e alocaram ou realocaram o seu capital para estas áreas. A minimização do risco da economia nacional é algo macro que um empresário não equaciona na sua decisão individual de abrir um determinado negócio. No entanto, se considerarmos que este mecanismo de mercado está a gerar ineficiências e risco acrescido para a sociedade como um todo, pode fazer sentido o estado intervir com algumas políticas que fomentem a diversificação económica.
Não posso deixar de concordar com esta abordagem de diversificação porque a verdade é que Portugal tem muito talento e em diferentes áreas. Temos, de facto, que ver mais além do que as oportunidades de curto-prazo que o turismo não parou de nos dar nos últimos anos e aproveitar para refletir sobre outras áreas em que poderemos desenvolver vantagens comparativas baseados noutros fatores naturais e humanos.
Contudo, continuo a considerar que o turismo em Portugal tem ainda muitas oportunidades inexploradas e que desinvestir fortemente neste setor não é a solução. Assim sendo, para além de pensarmos em realocar capital para outras áreas económicas, penso que é tão ou mais importante repensarmos as oportunidades de turismo em Portugal e aproveitarmos este tempo para desenharmos um setor diferente. Não devemos ter medo de apostar em turismo premium, em apostar em turismo de qualidade.
O nosso país condensa em poucos metros quadrados aquilo que muitos países não conseguem ter no dobro ou triplo da área nacional. Disso, não temos culpa. Não temos culpa também de sermos simpáticos e termos boa comida. Não pedimos a ninguém para termos paisagens de cortar o fôlego e termos praias maravilhosas de norte a sul. Este ar pitoresco e honesto que envolve o nosso país tem tanto de natureza como de humanidade. Sabemos que o mundo o quer ver. É hora de repensar o turismo nacional, vamos aproveitar a oportunidade?
Márcia Serra