Gaspar Pais, presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar Póvoa de Varzim e Vila do Conde, explica todo o processo de vacinação aos médicos, enfermeiros e auxiliares das unidades durante dois dias (terça-feira e quarta-feira).
Quando chegaram as vacinas? A vacina está preservada a uma temperatura de entre -2 a -18 graus, por isso é que em dois ou três dias temos de vacinar, porque isto tem todo um processo de descongelamento, desde ontem (segunda-feira). Saiu do processo onde estava a 70 graus negativos às 9h47 e chegou aqui eram 21h52. Temos hoje (terça-feira), amanhã (quarta-feira) e ainda o dia 31 para vacinar os 205 profissionais. Temos três enfermeiros a administrar, e cada ampola, assim que é preparada, tem meia hora para ser utilizada.
São todos os profissionais do centro hospitalar? Sim, isto é só para os profissionais da linha da frente. Médicos, enfermeiros, auxiliares, técnicos, que estão mais expostos.
Haverá uma segunda fase aqui? Nós tínhamos previsto inicialmente cerca de 400 e poucos profissionais. Tínhamos cerca de 50 que já tinham tido covid, portanto não vão ser vacinados nesta fase. Tínhamos cerca de 80 que recusaram. Se calhar numa segunda fase vão querer, mas inicialmente recusaram. Portanto, neste momento, dos 400 e poucos que tínhamos previsto vão ser vacinados cerca de metade, os que estão mais expostos, os que têm mais risco.
Esses profissionais que não quiseram ser já vacinados deram alguma razão? Nós fizemos um inquérito individual para saber quem é que queria ser vacinado. É um direito que assiste à pessoa, é uma vacina que não é obrigatória. Eu, pessoalmente, não estou na lista, mas se me dessem a opção era o primeiro a ser vacinado. Não estou na lista porque é para os profissionais da linha da frente e, como membro do conselho de administração, não faço parte. Mas se tivesse tido esse privilégio, era neste momento se calhar a primeira pessoa a ser vacinada.
Durante o dia de hoje e amanhã são 205? Sim. Depois, daqui a três semanas, estes 205 voltam a ser vacinados e ficam, aparentemente, com alguma imunidade. 90 e tal porcento de imunidade. Para fazer efeito, tem de ser mesmo três semanas [de intervalo]. Estamos a contar com que, brevemente, cheguem mais doses para vacinar o resto dos 200 e tal profissionais que ficaram de fora desta primeira lista.
Em termos de logística, isto está a ser muito rápido? Tem de ser muito rápido. Isto foi preparado de forma relâmpago, com aparato. Ontem, ao chegar cá, tinha batedores, puseram uma área de segurança, um perímetro de segurança. E correu bem, temos aqui o nosso staff todo, tivemos aqui a direção técnica com o diretor clínico e a enfermeira diretora, a médica de trabalho, a farmácia, os enfermeiros… está tudo alinhado, tudo preparado, os profissionais estão aqui todos para ser vacinados.
Esta é uma nova esperança no combate à covid-19? Isto é a esperança. Isto pode ser a diferença de voltarmos à vida normal ou continuarmos a ter a vida com estas limitações todas que temos tido até agora. Estamos mesmo todos muito esperançados. Agora, o efeito não é imediato. Não se pode pensar isso. Estamos a vacinar uma quantidade ainda muito reduzida da população. Isto é um vírus novo, ninguém tem a certeza absoluta do comportamento, da imunidade e da velocidade em que as estirpes mudam. Quando tiver a população vacinada em massa, estamos em crer que isto pelo menos dá-nos esse alento. Estamos convictos que isto é o princípio do regresso à normalidade. Estamos todos com essa expectativa.
Quando espera ter todos os profissionais do centro hospitalar vacinados? Brevemente. Isto tem a ver com a produção mundial e depois com a distribuição relativamente aos países. É algo que nós só temos de estar disponíveis. Assim que nos chegue o contacto para distribuírem as vacinas, nós vamos ter a logística toda preparada. Foi como aconteceu, em dois ou três dias tivemos isto tudo preparado. Foi um trabalho da parte da enfermeira diretora e do diretor clínico, que estiveram aqui a olear todo este processo. Destes 205, é muito fácil ver os primeiros 50 ou 60 que não há dúvidas nenhumas. Depois aquela zona de fronteira é que é muito difícil saber quem é que vai ficar dentro ou quem vai ficar fora. Mas estamos aqui prontos para, assim que chegarem as próximas doses, que haja doses para todos. É isso que pretendemos. Para todos, nomeadamente para o resto dos profissionais do centro hospitalar e da administração.
Fotos José Alberto Nogueira