Miguel Fernandes, vereador do Partido Socialista na Câmara da Póvoa no mandato que termina após o verão, não será recandidato nas autárquicas deste ano. “Primeiro, porque não foi convidado pela concelhia, e, depois, porque mesmo que fosse, não estaria nesta altura disponível”.
Um dos principais motivos é que o seu grande projeto de há quatro anos – a implementação da talassoterapia na Póvoa – acabou por ser inviabilizado por uma entidade sob tutela governamental, ou seja, das mesmas cores políticas.
A nível local, avisa, também, que o PS terá muitas dificuldades em conquistar a Câmara, a menos que comece a haver maior articulação entre os eleitos e a comissão política. Nesta entrevista, realizada dias antes do anúncio do candidato João Trocado do PS/Póvoa à Câmara, Miguel Fernandes reconhece ainda que o executivo lidou de forma adequada com a questão da pandemia.
O seu mandato enquanto vereador do PS aproxima-se do final. Que balanço faz destes quatro anos?
O balanço é positivo e tenho de valorizar o trabalho feito. A questão que se coloca é se passámos a mensagem ou não. Essa avaliação terá de ser feita por quem vem a seguir e pela população. De qualquer forma, o que muitas vezes acontece é que iniciamos um projeto destes cheios de energia e depois passamos por períodos em que essa energia nos abala, no sentido de haver entidades que nos iriam supostamente apoiar e depois não o fazem. Dou o exemplo da talassoterapia, um tema que me fez candidatar há quatro anos. A talassoterapia iria criar emprego e trazer tratamentos que não existem na Póvoa de Varzim, além da melhoria do turismo de saúde. Isso não aconteceu porque, há três anos, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) simplesmente bloqueou o processo e, até hoje, continua sem dar qualquer resposta [Na sequência do Plano de Ordenamento da Orla Costeira, que abrange Póvoa de Varzim e Vila do Conde]. Eu acho isso inaceitável, até porque a Câmara Municipal já tinha feito investimentos no projeto, que estava muito bom.
Sentiu essa abertura da parte do presidente da Câmara para a construção da talassoterapia?
Nós conseguimos influenciar o presidente no sentido de ver que isto seria uma mais-valia para a autarquia e para a população. E, depois de termos acolhimento para o projeto, verificamos que afinal o impedimento vem do próprio partido que nos apoiou. Eu sou independente, não sou filiado no PS, mas esperava que surgisse um apoio, em vez deste bloqueio.
Receia que o projeto nunca passe do papel?
Tenho esperança que, eventualmente, avance. Alguns dos fundamentos com que foi feito o bloqueio são inaceitáveis. Naquela zona da Póvoa (nas instalações da Varzim Lazer) nunca houve qualquer circunstância de perigo. Existe ali um restaurante e outros edificados, e não houve nunca nenhuma ameaça.
Quando menciona a falta de apoio do PS está a referir-se a nível local ou do governo?
Essencialmente a nível do governo. Do PS local não tenho nada a dizer, tive apoio e o que estrutura quer é que a Póvoa se desenvolva.
É uma tema que lhe deixa alguma angústia?
De certa forma sim. Acreditávamos neste projeto e conseguimos mobilizar as pessoas para ele, incluindo o executivo municipal. Encontrar depois uma barreira como esta acaba por desmobilizar. Vamos lutar contra quem? Contra aqueles que deveriam estar a favor? Eu não queria usar este termo, mas, de certa forma, acabou por ser um boicote.
Entrevista completa na edição papel de 24 de março