No sábado, no Estádio do Varzim, antes do início do jogo com o Braga B, foi prestada homenagem a quem mais a merecia – o Mikika. Não foi só a família varzinista, nas bancadas, com dísticos a fazer lembrar a memória de um grande servidor do clube, mas também a equipa de futebol com jogadores que praticamente nem conheciam quem foi o homem a merecer tão grande honra, por serem todos “estrangeiros” oriundos de outros clubes. Todos não. Um deles, o guarda-redes Ricardo Nunes (o mais velho entrado na casa dos quarenta) conheceu o Mikika desde os tenros anos quando frequentou o denominado “peladão” de graça memória, onde se fizeram largas gerações de jogadores, quantos deles a alcançarem o estrelato internacional. Foi talvez impulsionado pelo capitão da equipa que os jogadores se associaram à homenagem que quiseram prestar à memória do Mikika, posando para a posteridade com uma faixa bem significativa onde a imagem do homenageado ganhava estatuto de primeiro plano. O público, nos três sectores (abertos) das bancadas, correspondeu da melhor maneira, misto de sentimento e reconhecimento, com os mais de três milhares e meio de “almas” de coração varzinista a soltar do peito, a guardarem religiosamente um minuto de silêncio, correspondido pelos jogadores adversário e da equipa de arbitragem.
A memória do Mikika merece toda esta forma de prestar homenagem a quem a merece. Poucos dias antes, essa figura praticamente lendária dentro do clube que tem como principal símbolo o lobo do mar (que se enquadra às mil maravilhas com as origens de quem tanto trabalhou pelo seu clube do coração), desaparecera do número dos vivos, levado aos 69 anos por grave enfermidade que o foi despedaçando aos bocados. Tinha bem guardado o cartão de associado com meio século de filiação. Com as quotas em dia, que é muito importante. Ele que por força do seu trabalho até merecia outra forma de ficar ligado ao seu clube de sempre, se mais não fora, pelo menos como reconhecimento pelo muito que trabalhou ao longo de muitos anos – quer na rouparia, quer no arranjo do “pelado” para sobre ele evoluírem os seus meninos na prática do futebol, quer também colaborando em toda a gama de obras que se processavam
no Estádio, ou mesmo empunhando a simbólica bandeira alvinegra em momentos solenes. O Mikika (como era conhecido entre amigos e familiares), era o chamado “pau para toda a colher”, sem desfalecimento, nunca virando a cara fosse ao que fosse, sempre com o seu varzinismo a falar mais alto do que, por vezes, as suas forças permitiam, quando o fim da vida se aproximava de braço dado com as fatalidades da doença.
Jamais poderei esquecer a figura do Mikika. Era visita quase diária quando passava pelo meu local de trabalho, já que ficava no caminho da sua residência caxineira até ao campo (ou Estádio) do Varzim, por norma empregando como principal locomoção os membros inferiores que acabaram por ser os maiores culpados da sua fragilidade física, abandonando aos poucos o corpo repleto de amor varzinista. Procurava sempre trazer (ou levar) notícias do seu Varzim, quantas vezes misturando motivos agradáveis com outros de menor agrado. Tudo isso fazia parte da vida do Mikika.
No sábado passado, teve a homenagem que merecia. Talvez fosse até a primeira por parte da família varzinista. Porque ele, o homem simples, o grande trabalhador em prol do seu Varzim, merece mais. O que virá a seu tempo, como espero e é de justiça.
Foi pena o resultado final do jogo quedar-se pelo empate. Porque se tratava de um jogo para vencer, por ser em casa, frente a um adversário de posição inferior na tabela classificativa. Mas que serviu (e de que maneira) como sobreaviso para o resto do Campeonato que entrou na segunda volta. O que prova não ser pera doce ficar entre os quatro primeiros classificados com direito a entrarem na segunda fase de acesso à II Liga. Para já a posição do Varzim, no terceiro lugar… é como o código postal, meio caminho andado. O resto do caminho será tarefa dura. Como duro foi o empate frente ao Braga B, onde a derrota esteve a rondar as hostes varzinistas e só desfeita na ponta final do encontro. Foi, de facto, dura a tarefa de enfrentar a juventude bracarense. Porque de um lado estava a irreverência de jogadores cujo mais velho fazia parte do rol de pouco mais de uma vintena de anos (e o mais novo 17), e do outro lado, entre meia dúzia de jogadores na casa dos 30 anos, contavam-se alguns entrados há bastante tempo nos vinte, numa mescla de experiência com a vontade (e saber) de jogar.
Tudo isso serviu para aureolar a homenagem prestada pela família varzinista ao seu devotado servidor, uma figura com um rol de trabalhos prestados bem significativo, sem necessitar, para se evidenciar, de grandes “parangonas” a emoldurar o nome e estatuto com ou sem rótulo de “canudos”. Mas sim fruto de muita canseira e amor clubista.
Descansa em paz, Mikika, porque para este teu amigo de sempre continuas a prevalecer como figura importante (e até lendária) dentro do nosso Varzim.