Empresas familiares a pedra fundamental da economia

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Perde-se na memória do tempo a importância da pedra fundamental. Nas antigas construções, esta era a primeira pedra a ser colocada numa esquina, formando o ângulo reto entre duas paredes, e toda as pedras durante a construção do edifício eram alinhadas em função desta singular pedra. Gostamos de pensar nas empresas familiares e nos seus líderes precisamente recorrendo frequentemente a esta analogia. De acordo com a Comissão Europeia, as empresas familiares (family business na terminologia anglo-saxónica) representam aproximadamente 60% de todas as empresas na Europa. Esta estimativa se desatualizada é certamente por defeito, tal é a velocidade e o dinamismo dos empreendedores que é visível quer nas empresas dos setores mais tradicionais da economia, às start-up’s tecnológicas que trabalham nas fronteiras do conhecimento humano.

A Comissão Europeia define uma empresa familiar como aquela em que o controlo da mesma reside numa pessoa ou família e em que pelo menos uma das pessoas da família está envolvida na gestão da empresa. Adicionalmente, as empresas cotadas também são consideradas uma empresa familiar quando uma família detém 25% dos direitos de voto. Estima-se que na Europa existam cerca de 14 milhões de empresas familiares que asseguram mais de 60 milhões de empregos. Deste modo, ignorar a importância e as características das empresas familiares é ignorar a pedra fundamental da economia.

Existe um verdadeiro ecossistema relacionado com uma empresa familiar que é, de facto, um empreendimento de uma ou várias famílias. No centro desse empreendimento familiar, está a Missão e a Visão que a família tem para os seus negócios, devidamente revestidos pelos Valores que a família partilha. De forma concêntrica, coexiste o Talento dos membros da família ao serviço da empresa (ou ausência de talento), a Vida Familiar que vai para além do mundo dos negócios, mas que são mutuamente intercambiáveis, os Activos Financeiros da família, entre outras células vivas do ecossistema. Liderar uma empresa familiar é, portanto, de um nível de exigência significativo, pela necessidade de manter em equilíbrio o ecossistema da família empresária.

Para a família empresária, sobretudo para os seus líderes, convém manter presente que há três pilares distintos, mas que se sobrepõem: o Património, o Negócio e a Família. Do lado do património, a necessidade da sua preservação, rentabilização, controlo e crescimento. Do lado do negócio, a profissionalização do mesmo, os modelos de governos que devem ser adotados, a legitimação da liderança familiar e os modelos de remuneração do capital. E por fim, do lado da família, a sua coesão em torno dos negócios, a identificação dos membros da família com os negócios que esta gera e gere, o bem estar familiar, a concórdia nas relações familiares e a formação para a liderança da nova geração de líderes.

Cada família empresária organiza-se debaixo de um modelo que foi burilado ao longo dos tempos pelos Fundadores e pelos líderes que lhes sucederam. Nas famílias empresárias mais estruturadas, é comum existir um Protocolo Familiar, que consiste num modelo de governo aprovado por toda a família e que contribui ativamente para a manutenção da paz no seio familiar, balizando tensões e regulando conflitos. O protocolo familiar é um documento dinâmico que estabelce a vinculação permanente da família com os negócios e estabelece regras claras sobre a tomada de decisão no seio familiar. É também neste valioso documento estratégico para as famílias empresárias que se estabelecem as regras claras sobre o processo de sucessão na liderança dos negócios, ou nominativamente ou de forma descritiva sobre o perfil pretendido.

Se, por um dia da nossa vida, fossemos líderes de uma empresa ou grupo familiar, sentiríamos a real importância da longevidade do negócio que atravessa gerações, os riscos que enfrentam, a busca permanente da estabilidade do negócio, a importância das relações familiares e o sentimento de pertença. Claro que a responsabilidade de fazer crescer o negócio familiar num ambiente competitivo e global, passando necessariamente pela expansão internacional, orgânica ou inorgânica, e o estabelecimento de um bom sistema de governo corporativo, também seriam atributos que não poderiam faltar na nossa lista de prioridades. Por fim, como pedra fundamental das empresas familiares de sucesso e o que as faz únicas: a manutenção do património imaterial da empresa que é o legado de valores deixados pelos fundadores.

Por tudo isto e por muito mais que não cabe numa folha de papel, sempre que estamos na presença de homens ou mulheres que lideram empresas familiares, é inevitável sentirmo-nos inspirados pelo que fazem e pelo que representam.