Pensamentos soltos sobre economia no pós-pandemia

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1 – Fundos estruturais (PRR e Portugal 2030)

Quando falamos no futuro da nossa economia falamos, naturalmente, nos fundos estruturais e no seu impacto para Portugal, por isso mesmo, gostava de referir dois aspetos que considero essenciais para que estes surtam o efeito desejado, ou seja, criar uma economia mais forte e melhorar a qualidade de vida dos portugueses.

O primeiro aspeto é a aplicação destes montantes nos sectores estratégicos que é onde fazem efetivamente falta.

O primeiro exemplo que gostava de referir é o da indústria automóvel, que está a sofrer um processo de mudança significativo a nível global. As novas tendências de eletrificação, condução autónoma e sistemas infoentretenimento vão descontinuar alguns dos produtos “clássicos” desta indústria, como são exemplo o motor de combustão e os seus componentes ou os mostradores analógicos.

Estas novas tendências obrigam a uma mudança estrutural de parte significativa das empresas fornecedoras da indústria automóvel, que atuam em áreas que no futuro, conforme já referido, irão desaparecer ou reduzir drasticamente a sua atividade, sendo, por isso urgente promover este salto qualitativo suportado por estes fundos.

Outro excelente exemplo é o da indústria dos semicondutores em que existe uma diferença significativa entre a atual procura e a oferta disponível. Esta situação irá se manter durante bastantes anos devido à digitalização da economia, o que leva a uma necessidade crescente de investimento nesta área.

A China e os Estados Unidos já o estão a fazer, conscientes da importância estratégica da digitalização para a economia. A Europa em geral e Portugal em particular tem de perceber a relevância estratégica de direcionar os fundos estruturais para este sector.

Como terceiro exemplo, é obrigatório referir a autonomia energética, na qual o país precisa de trabalhar. Se dúvidas existissem bastava estar atento aos preços da energia durante estes dias de conflito na Ucrânia. Também neste sector da energia é preciso investir os fundos estruturais para minimizar o impacto de uma subida gigante no nosso sector empresarial que pode tornar inviáveis muitas empresas. Sendo importante que a discussão seja o mais alargada possível, e que coloque em cima da mesa todos os cenários, mesmo aqueles que sabemos serem “tabus” na nossa sociedade como é o caso da energia nuclear.

O segundo aspeto prende-se com a celeridade dos fundos em chegarem à economia real.
É muito importante que estes fundos cheguem à economia e às empresas rapidamente. A atividade empresarial dos nossos dias não se compadece com timings extremamente burocráticos e morosos que servem apenas para manter as baixas taxas de execução como aquelas que temos vindo a assistir nos últimos anos.

Vejamos por exemplo o PRR, em que o processo de aprovação se iniciou em setembro 2021 e apenas se prevê a aprovação final dos primeiros projetos no final do primeiro semestre 2022. Ou seja, o processo irá demorar no mínimo um ano para o dinheiro começar a chegar à economia real (no melhor cenário). Estas situações não acontecem apenas no PRR, pelo contrário, os processos de aprovação de fundos estruturais estendem-se de forma pouco célere e muito burocrática por períodos, às vezes, ainda mais alargados que o atrás referido, levando a que empresas em mercados dinâmicos não possam sujeitar-se a estes tempos de espera, optando por investirem apenas com capitais próprios ou optando por outras localizações geográficas para realizarem os seus investimentos.

2 – Renascimento Industrial:

Quando falamos em Renascimento industrial da Europa, temos como racional vários argumentos. Argumentos esses, suficientemente fortes para aceitar este objetivo como algo de extrema importância para o futuro coletivo da Europa e de Portugal. No entanto, gostava de me focar em dois argumentos em particular que são: gestão do risco e a quarta revolução industrial. Ou seja, se existe algo que aprendemos com a pandemia e a triste situação de guerra na Ucrânia é, certamente, a importância de conseguirmos diminuir o risco sendo mais autónomos no que a Produção industrial diz respeito nas suas várias vertentes.

Já referimos dois setores onde esta necessidade se tornou mais visível. A indústria de componentes eletrónicos e o sector de produção de energia, em que, a elevada dependência de outros países em particular da China na produção industrial e a Rússia no sector energético, fragilizam a Europa enquanto potência económica global.

Por outro lado, com o advento da indústria 4.0 e consequente aumento da automatização sabemos que as estruturas de custo das empresas industriais vão mudar, passando de empresas industriais de mão-de-obra intensiva para empresas industriais de capital intensivo, tornando-se, novamente, interessantes para os países desenvolvidos.

Obviamente que este renascimento industrial será diferente daquele que aconteceu nas últimas décadas do século XX em Portugal.

Esta nova Reindustrialização terá de estar assente na sustentabilidade ambiental e no crescimento da cadeia de valor através de ecossistemas industriais (manufatura + desenvolvimento de produto+ conhecimento dos parceiros que são as universidades e politécnicos), e também suportada por recursos humanos altamente qualificados e com uma forte cultura de inovação constante.

Assim sendo, o País tem rapidamente de criar condições para trazer de volta os nossos jovens mais qualificados que se decidiram no passado, por outras paragens, emigrando, ao mesmo tempo que qualifica e requalifica os recursos humanos que temos dentro de portas.

3 – Coesão territorial

Não podemos falar de desenvolvimento económico sem referir um desenvolvimento que permita fortalecer a coesão territorial e não continuar a aumentar o fosso entre o litoral e o interior do nosso país.

É, portanto, urgente criar fatores de discriminação positiva nos fundos estruturais, pois só assim, se orientam os investimentos das empresas para essas geografias. Naturalmente que, os incentivos não passam só por fundos estruturais, passam também por incentivos fiscais entre outros aspetos. Sendo a conjugação destes que vai permitir por cobro à constante desertificação do interior, pois o emprego qualificado é sem dúvida o principal fator de fixação das populações das regiões de baixa densidade no sítio aonde nasceram.

Esta fixação dos mais jovens e qualificados na região onde nasceram vai contribuir para o enriquecimento e melhoria das condições de vida nestas mesmas regiões, invertendo a atual circunstância de desertificação das várias regiões do interior.

São estes os aspetos que, rapidamente, gostava de realçar como essenciais para uma economia no pós- pandemia (muitos outros poderiam ser aflorados, mas estes parecem-me prioritários), de forma a que a situação em que vivemos nos últimos 20 anos (de queda no ranking de países europeus em termos de PIB per capita) possa ser invertida, permitindo a Portugal começar a aproximar-se do pelotão dos países mais ricos na Europa.

É urgente começar!!!