Uma nova ‘Nova Sintra’ – opinião Luís Leal

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Estão em curso as obras de reabilitação do Bairro de Nova Sintra, iniciadas em finais de setembro. Segundo divulgado publicamente pela Câmara Municipal, vão custar ao Município, à partida, 1,823 milhões de euros, prevendo-se o prazo de execução em 12 meses. Estão no caderno de encargos, aceite pelo empreiteiro de construção civil vencedor do concurso, obras que prometem dar nova cara entre a Rua Silveira Campos e Rua do Senhor do Bonfim ou Coelheiro. Quer dizer: vai surgir naquela tão movimentada zona laboriosa da cidade uma nova Nova Sintra, onde outrora era uma parcela da Póvoa um tanto degradada. Para além de serem criadas novas ligações às infraestruturas existentes e já sem a capacidade para responder ao bem-estar dos moradores, serão construídos novos passeios, ruas, estruturas públicas e equipamentos de desporto e lazer. “Será uma intervenção com dignidade naquele espaço”, promete o Município, aumentando de volume quando for criado também um prometido Centro de Idosos, para dar seguimento à transferência já registada do Instituto Maria da Paz Varzim que abriu os seus braços de bem-fazer na ocupação bem conseguida da antiga Escola Primária que há bastante tempo saiu para se instalar em edifício mais nobre no centro da cidade.

Nova Sintra foi uma denominação “inventada” pelo grande poveiro Santos Graça, talvez ao considerar essa parte mais elevada da então vila como uma segunda edição da “verdadeira” para os lados da capital do País, com vista para o mar – salvo as devidas proporções. Foi também Santos Graça que, valendo-se da sua condição de figura de proa dos jornais poveiros, atribuiu àquela parcela urbana poveira a designação de Zona Operária, já que era ali que mais se aglomerava a classe de trabalhadores, homens e mulheres que lutavam pelo seu sustento, principalmente na área fabril (de tecidos e conservas), e que emprestava à vila um convívio ímpar entre gente de condições sociais débeis, quantas vezes a servirem de centro de reunião pública… e outras coisas mais. Mais tarde a chamada zona laboriosa de Coelheiro foi ganhando uma dimensão populacional mais elevada com a construção do primeiro bairro social poveiro, quando o então presidente da Câmara Municipal Silveira Campos (isto nos anos quarenta, mais ou menos), tendo erguido, em terrenos praticamente baldios, um bloco de casas (cem exatamente) para serem ocupadas unicamente por famílias sem posses para possuírem as suas casas próprias. Esse bairro ainda lá está, embora com sucessivas alterações (por vezes abusivas) por parte dos seus moradores, ao ponto de longos anos decorridos formarem o bloco residencial “espartilhado” com o crescimento de anexos… sem nexo.

Até que, com o “nascimento” da Revolução dos Cravos, em 1975, foi criado pelos moradores daquela zona nascente da Póvoa, uma Comissão de Moradores da Zona Operária, ao dar seguimento a uma denominação “nascida” no cérebro de Santos Graça, chegando a proporcionar um jeito de adivinha poveira “onde se situava a velha Sintra”.

Pois essa Comissão, numa das suas reivindicações, teve o trabalho de elaborar uma longa lista de melhoramentos de que Nova Sintra era bastante carecida, e fê-la entregar ao poder autárquico, a dar os primeiros passos oficialmente. A audiência solicitada ao presidente da Câmara Municipal (Sá Carneiro, primeiro presidente eleito democraticamente), de imediato foi marcada uma reunião nos Paços do Concelho, entre o líder camarário e uma delegação da Comissão de Moradores que foi recebida com toda a pompa e circunstância. Depois de lhe ter sido feita a entrega do “Caderno de Encargos” das suas reivindicações (como era costume dizer-se), o líder do Município, percorreu com os olhos o que era reivindicado, e desabafou: “É isto que os senhores reivindicam, nada mais?… comentando: diziam os meus pares que tivesse cuidado com ‘esta gente´, considerada revolucionária, e afinal o que querem para a vossa zona são as melhorias. Mas isso não se reivindica, tudo o que aqui está são obrigações da Câmara perante o seu povo. Vão-se embora que eu próprio me responsabilizo de dar seguimento aos vossos desejos que são os mesmos que o povo tem direito”. O que é que estava estampado nas folhas entregues nas mãos do alto dirigente poveiro? Melhoramentos nas ruas e passeios, plantação de árvores no Bairro Social, infraestruturas com mais segurança e dignidade, e, além disso, a construção de um Parque Infantil nos terrenos centrais do Bairro. Pois tudo isso foi levado a cabo num curto espaço de tempo. Passando o macadame das ruas de Nova Sintra a ser substituído por paralelos. Quanto ao parque infantil, ele foi construído, mas com pouca duração porque o vandalismo da juventude e adultos contribuiu para a sua degradação. Mas, felizmente, serviu como alicerces para, mais tarde, ser construído um Parque Infantil com dignidade, passando a ter o forte contributo da Junta de Freguesia da Póvoa, a dar-lhe a dimensão que agora apresenta.

Agora surge a ideia de ser criada uma Nova Sintra renovada. Para bem do progresso da cidade e para satisfação de quem faz o seu habitat daquela parcela poveira. Só se espera que não surjam entraves na construção, como já surgiram em tempos idos, e que de facto, a cidade poveira passe a ter uma nova Nova Sintra, com o “dedo” do poder autárquico que é para isso que verdadeiramente foi criado e empurrado pela mudança que Portugal registou com o 25 de Abril. Opinião Luís Leal – ‘O Meu Cantinho’