Os idosos são como enciclopédias vivas. Com olhos que refletem memórias e rugas que contam histórias, carregam consigo a sabedoria acumulada de uma vida inteira. Neles, estão guardadas experiências, aventuras e acasos que moldaram o mundo como o conhecemos hoje.
Testemunhas de guerras, crises, avanços tecnológicos e mudanças sociais, os idosos são exemplos de adaptação e perseverança. No entanto, a sua contribuição é frequentemente subvalorizada. As suas histórias, muitas vezes, permanecem silenciosas, quando poderiam ser uma fonte inestimável de aprendizagem para todos nós. Esquecemos facilmente que o presente foi construído sobre os alicerces do passado. A economia, a cultura e a sociedade são frutos do trabalho e da dedicação daqueles que agora, na terceira idade, continuam a ser um porto seguro para filhos e netos, oferecendo amor em forma de histórias e sorrisos carregados de sabedoria.
Somos todos passageiros de uma viagem inevitável: o envelhecimento. Quando jovens, olhamos para o futuro como uma estrada longa e reta, cheia de promessas. Mas com o passar do tempo, percebemos que essa estrada é cheia de subidas e descidas, curvas inesperadas e encruzilhadas que nos fazem refletir. Com a maturidade, começamos a perceber o verdadeiro valor do tempo. O que antes parecia essencial, muitas vezes, revela-se dispensável. Cada decisão, cada passo, deixa de ser apenas um movimento e passa a ser uma construção consciente da nossa própria história.
Se a juventude é marcada pela urgência e pela ânsia de conquistar, a idade traz serenidade e clareza. Aprendemos que nem tudo precisa de ser feito imediatamente e que algumas coisas são mais importantes do que outras. Também descobrimos que o conteúdo é muito mais relevante que a embalagem. Essa sabedoria silenciosa permite-nos viver de forma mais autêntica, deixando para trás as pressões sociais e abraçando a nossa verdadeira essência. Envelhecer oferece-nos a oportunidade de nos libertarmos das máscaras que usamos ao longo da vida e de vivermos de acordo com os nossos valores. Esta redescoberta da nossa identidade é uma das maiores dádivas da idade. Também nos ensina que somos os principais responsáveis pela nossa felicidade. Essa autorresponsabilização não é um fardo, mas uma libertação, permitindo-nos escolher como queremos viver cada dia. A nossa vida é o resultado das escolhas que fizemos em cada momento – mais cedo ou mais tarde vamos perceber que esta é a mais pura das verdades.
Envelhecer não é o fim da jornada, mas o início de uma nova etapa, onde conseguimos ver a beleza nas pequenas coisas e nos momentos vividos com intenção. Cada amanhecer é um convite para apreciar o presente e agarrar oportunidades de crescimento, aprendizagem e realização, independentemente do tempo que já vivemos. Envelhecer é um privilégio. É colocar em prática o mote “Ah, se eu soubesse o que sei hoje!…” É uma jornada de autodescoberta, de crescimento contínuo e de reconexão com o que realmente importa. Em vez de temer o passar dos anos, devemos acolhê-los com gratidão e curiosidade. Cada ruga e cada fio de cabelo branco são testemunhos da nossa viagem por este mundo e do poder transformador do tempo. Afinal, envelhecer é, em última análise, viver.
Por isso, aproveite a vida em cada etapa. Viva de acordo com os seus valores, abrace quem realmente é, e lembre-se de que o tempo é o seu bem mais precioso. Use-o para construir uma vida que o inspire, que o faça feliz e que deixe um legado de amor e autenticidade.
Artigo escrito por Raquel Gonçalves, Coach e Amiga da Associação de Solidariedade Social de Santa Cristina de Malta (SANCRIS).