Se os meus inimigos…!

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JOSÉ ANDRADE

‘Se os meus inimigos pararem de dizer mentiras a meu respeito… eu paro de dizer verdades a respeito deles’!

Isto, dito assim, até parece um aviso à navegação. Mas não é. Nem o aviso à navegação, e muito menos um aviso a inimigos, coisa que nunca cultivei, não cultivo, e não está nos meus horizontes cultivar. Aliás, ódio e inveja, são duas virtudes que desde sempre nunca fizeram parte dos meus alicerces. – E como esta vida são dois dias… já basta ter de testemunhar a estupidez dos que rosnam baixinho, traiçoeiros, ingratos, sem alma.

Não sei quem escreveu esta tão certeira frase com que abro este espaço. Sei que me parece ser a que melhor se adapta como manifestação de solidariedade com um amigo a braços com um processo judicial por ‘delito de opinião’. O meu amigo tem o ‘perigoso’ costume de ter opinião sobre a nossa vida pública. E é tanto mais ‘insurgente’, quando a sua opinião é sobre a vida pública local, a que nos está mais próxima. Daí não admirar a ‘novidade de ser o alvo de um processo, movido por um ‘insustentável’ homem público da paróquia, que em vez de pedir um desmentido ao orgão de comunicação social onde foi publicado, foi pedir a defesa da honra de fazer asneiras com o dinheiro de todos nós, sem contraditório, ao tribunal. E como não tem de pagar custas, e existe sempre uma alma amiga que entende poder andar a gastar o tempo e o dinheiro dos outros, sim, que se o homem público tivesse de pagar os processos do seu bolso, a coisa iria por outro caminho, aliás, já mais de uma vez isso lhe foi apontado por tribunais superiores onde tem perdido este tipo de intimidações, a coisa ficaria por um simples pedido de direito de resposta ou desmentido.

Tem-se tentado criar na opinião pública a ideia que os eleitos, políticos os não, são gente a quem é imposta à força uma obrigação. Ou aceitam os lugares para onde concorrem, ou…!Coitados.

Pela choradeira e baba que tais ‘castigados’ debitam os seus azares, não há alma que resista ao desconforto de se sentir culpado por contribuir de algum modo para tal sacrifício e castigo. É que isto de obrigar alguém a ter de almoçar, jantar, e por vezes cear, fora de casa, é uma tortura. E se a isso, se juntar umas quantas ‘improvisadas palavrinhas de circunstância’, quase sempre elogiosas em causa própria, é sobremesa que não se recomenda a ninguém. E essa coisa de ter de ser conduzido por outrem? É que nem no pópó se tem direito à privacidade. Enfim, castigos desumanos, coisas impensáveis, veneno disfarçado em rebuçados com votos do ‘povo’.

Arrastados da sua zona de conforto, das suas casas, da sua vidinha, expostos ao sacrifício do andarem de terra em terra, qual vendedor de banha da cobra tentando impingir a dita cuja como salvação de todos os males, os eleitos, mandatados para administrarem e gerirem a ‘coisa pública’, no afã de saborearem o ‘veneno do poder’, esquecessem de que estão a ali, nos lugares de eleição, para tentarem encontrar o melhor, o mais acertado, com o menor custo, e que satisfaça uma larga maioria, por muito tempo. Ou será que a reclamação dos ‘direitos de minoria’ só são válidos quando aspiram ao lugar?

E o direito ao contraditório? E à diferença? E à prestação de contas? Explicadas, muito bem explicadas? E um comportamento, político, social e familiar, exemplar?

Decididamente, é mesmo um ‘castigo’ empurrar alguém para este tipo de trabalho. Só não se compreende, mas isso deve ser um dos tais males inexplicáveis da estupidez humana, é porque raio é que são tantos a esgadanharem-se por querem um lugar desses. Não terem vida privada, horas certas de descanso, serem motivo de contraditório, chacota e até preconceito. Terem de aguentar e suportar, a propósito da exposição em que se colocou, quem escreve, tem opinião, escrutina a vida pública. E se esse ‘líder de opinião’ for daqueles que tem da vida tanto ou mais conhecimento que eles…?! Aí entra o início deste texto.