José António Alves Anjo
Sobre José António Alves Anjo, mais conhecido por Alves Anjo, muito há por dizer e este artigo, não chegará, para descrever pormenorizadamente, a sua personalidade tão rica e repleta de intervenção pública na nossa cidade e complementarmente na história do nosso país. No entanto tentarei de forma concisa, embora sumária, traçar o seu percurso de vida.
Alves Anjo foi batizado a 3 de maio de 1759, tendo nascido no Lugar da Gandra, Argivai, onde, por sua vez, viviam os seus pais. O facto de ter sido apadrinhado por Miguel Calheiros, de que falarei num próximo artigo, contribuiu em parte, para a sua evolução profissional, de forma significativa, mas estou certa, de que, as suas características pessoais tais como, o seu espirito determinado e sagaz, terá feito o resto. De profissão alfaiate, casou com 18 anos, na Igreja Paroquial de São Miguel de Argivai, em 1777. A noiva Maria Joaquina de S. José, era filha dos lavradores Manuel João e Maria Lopes, residentes no Lugar da Igreja, desta mesma freguesia.
Com o dote paterno da sua esposa, no qual se incluía entre outros objectos, 48.000 reis em dinheiro: “moedas de ouro…tantas e tam boas…”1, compra uma casa na Póvoa, onde passa a residir com a sua esposa. Continua a exercer a profissão de alfaiate, mas aproveita também para desenvolver a sua perícia na escrita, na aritmética e nas leis.
Daí a ser solicitado a participar na vida pública e em funções religiosas, foi um ápice. Entre outras funções de destaque, começou pelo cargo de Escrivão de confrarias (1784/5); Solicitador na auditoria local; Tabelião; Tesoureiro da Confraria de Nossa Senhora da Conceição; curiosamente o seu nome, consta também da lista de pessoas taxadas, pela contribuição de guerra imposta em 1808, com as invasões francesas, o que mostra já que viveria com algum à vontade financeiro. No seu caso concreto foi taxado em 1.600 reis. Continuando na descrição dos inúmeros cargos de grande responsabilidade para os quais foi escolhido, podemos lembrar o de Alferes de Ordenanças; o de Vereador, entre outros.
Alves Anjo, acérrimo miguelista, pautou pela preocupação na resolução dos problemas maiores, que afectavam o desenvolvimento da Póvoa, desejava o progresso e bem de toda a comunidade, tentando não entrar em quezílias politicas. Uma das suas maiores preocupações incidia numa necessidade, há muito urgente: a construção do hospital. Urgência esta que se devia, não só ao facto de a Póvoa ser uma comunidade vasta, com muita pobreza e diversas “malinas” mas também por ter sido muito afectada por pestes, como exemplo a de 1811-1812 em que pereceram centenas de pessoas (quase 300 mortos).
Com as autorizações devidas, bem assentes, nos documentos régios, exemplo disso, o de 28 de julho de 1819, pelo punho de D. João, a pedido do Procurador da Câmara e Povo da vila e freguesia da Póvoa de Varzim, foi dada a autorização da construção do hospital. Aos poucos foi sendo delineado como tudo iria ser realizado, desde a obra em si, até às verbas (provindo de: “…se pagasse hum real por cada arrátel de carne e outro tanto por cada quartilho de vinho que nessa mesma villa se vender…” 2.
O argivaiense que começou alfaiate, além de ter sido um cidadão, na verdadeira acepção da palavra, exemplar, foi ainda escolhido para o cargo de Tesoureiro e Depositário do real d´água para a manutenção do novo Hospital e como Almotacé em 1823.
Alves Anjo, com toda a sua experiência, sagacidade, inteligência, sentido de responsabilidade e organização, deixou-nos aos 76 anos, mas a sua memória fica perpetuada num dos documentos mais interessantes e fundamentais para a compreensão, passo a passo, da construção, dos avanços e recuos, das despesas e receitas, além de todos os envolvidos na obra do Hospital. Destaco assim: O Caderno de Alves Anjo (1822-1830) que por tudo isto, é de grande riqueza para a história da Póvoa de Varzim.