As palavras são de José Cancela, presidente da ADC Balasar, que apesar da incerteza de como vai ser o futebol distrital esta época, devido à covid-19, garante que a equipa será competitiva para a Divisão de Honra da AF Porto. O líder da associação, que tem mandato até junho de 2021, garante “se isto se mantiver (pandemia da covid-19) e não houver ninguém, e se a minha equipa quiser me acompanhar”, não deixará “isto morrer”
O campeonato começa domingo. Sete meses depois da paragem forçada, como é este regresso aos jogos oficiais?
Há o calendário e está tudo previsto para começarmos, mas esta situação da Covid vai fazer-nos pensar dia a dia porque de um momento para o outro as coisas podem mudar e é tudo uma incerteza. Estamos a treinar, mas vamos ver no que vai dar.
Como tem sido o diálogo do Balasar com as entidades de saúde e com a Associação de Futebol do Porto sobre a retoma o futebol distrital?
Temos acompanhado e ido às reuniões da associação. O que nos é transmitido é que o campeonato vai prosseguir, mas temos de aguardar. A ideia deles é que o regional comece sem público, e, assim, muito dificilmente isto terá pernas para andar, porque ficamos sem receitas de bilheteira que, por poucas que sejam, são sempre uma grande ajuda a este nível. A juntar a isto está a situação dos escalões de formação, que ainda não estão autorizados sequer a treinar. Ou seja, as receitas são zero. Para um clube como o Balasar, dificilmente haverá condições de fazer um campeonato sem receitas.
O Balasar está preparado em termos de plantel e treinador, e quais os objetivos?
Sim, preparámo-nos. Desde que tudo parou, fomo-nos focando e organizando. Entrámos em contacto com os jogadores do ano passado e fomos arranjando outros. O treinador é o mesmo da época anterior e os objetivos passam por tentar sermos melhores todos os anos. Somos prudentes, conhecemos as nossas limitações e a manutenção é o grande objetivo.
Na inauguração do campo em Balasar e das suas infraestruturas, manifestou a ambição de chegar a outra divisão acima. Isso, ainda poderá acontecer?
Essa grande ambição mantém-se, mas o problema nesta altura é esta situação de incerteza em termos de patrocínios e apoios, que está a condicionar esse objetivo. Se as coisas estão meias paradas, vamos dar um passo de cada vez e caminhando lentamente porque não podemos entrar em grandes investimentos nem projetos se não sabemos o que é isto nos vai trazer. Ninguém me garante que o campeonato não vai ser interrompido ou que vai sequer arrancar na data prevista. É complicado e faz-nos confusão andarmos a trabalhar sem certeza de nada, é um vazio à nossa frente. Não conseguimos planear, pode acontecer termos de treinar e depois o jogo ser adiado ou cancelado.
Em termos de jogadores, a maioria transita da época passada?
Quase a equipa toda. Todos os anos há alguns que saem, outros que deixam de jogar. Contratámos 7 atletas e temos a situação de alguns que foram para outros escalões superiores (por exemplo o Postiga), mas isso também é o que o Balasar faz, ou seja, projeta jogadores. Vamos ter uma equipa competitiva e pronta para a luta, dentro das nossas possibilidades e do contexto atual.
Através do protocolo que estabeleceram com o Varzim, haverá jogadores na equipa sénior?
O Varzim tem direito de preferência por jogadores do Balasar e nós preferência por jogadores que eles dispensam. Eles também têm aqui a sua escola ‘Os Tarrotes’ mas, de resto, simplesmente somos dois clubes amigos e, se houver algo que interesse ao Varzim, nós estamos aqui para facilitar essas situações e o Varzim pensa da mesma forma a nosso respeito.
Tem havido maior aproximação com a direção do Varzim?
Sim, embora eu não tenha queixa da antiga direção. Havia uma relação boa com o presidente e tudo o que nós conversámos ele nunca deixou de cumprir. Com o presidente atual houve uma abertura muito boa, não o conhecia pessoalmente, mas é um presidente fácil de comunicar e ele também vê o futebol num todo e num contexto do concelho da Póvoa. É dessa forma que estamos a trabalhar.
Quando surgiu a pandemia, o Balasar estava estas novas infraestruturas desportivas há cerca de três meses. Entretanto esteve parado. Como é que tem sido a gestão e conseguir manter o clube sustentável em termos financeiros?
Tentámos poupar, gastando somente o que temos e podemos. Estivemos muitos anos sem estas instalações, na terra e na Póvoa. Quando viemos para cá, estávamos entusiasmados, mas, por azar do destino, tivemos de deixar de jogar por causa da pandemia. Mas a partir daí fomos tratando das instalações e fazendo limpeza, com o apoio da Junta. Agora estamos ansiosos e com fome de bola, queremos trabalhar para o clube para a freguesia.
Essa fome de bola estende-se a todos os jogadores?
Todos nós estamos com muita vontade de começar uma nova época e de trabalhar no sentido de ajudar o Balasar. Os jogadores estão famintos de bola.
Além dos seniores, os juniores também são federados?
Neste momento temos a equipa sénior federada e os escalões júnior e os juvenis, que vão ser federados.
Será a primeira vez, os juvenis?
Os juvenis é a primeira vez. Temos as equipas técnicas, preparadores físicos para esses dois escalões (júnior e juvenil), e temos o diretor que está a trabalhar em toda a formação que é o Vítor Barbosa. Estamos organizados e prontos para treinar e jogar quando formos autorizados
O Balasar também costuma participar no Inter-freguesias, para a qual ainda não há data para começar a competição. Como é que o Balasar consegue conversar com os atletas da parte amadora, sendo que são dezenas de atletas que estão sem atividade desportiva?
É muito difícil porque eles querem jogar, mas não podem. Se calhar as coisas nunca mais vão ser como antes, os hábitos são diferentes e eles sabem perfeitamente que têm de lidar com a proximidade de forma diferente e têm acatado as decisões. São responsáveis e agora o único remédio é esperar.
O Balasar é um dos fatores de dinamização da freguesia. Sendo um homem da terra, como é que vê esta situação na freguesia?
Vejo um bocado parado. Costuma haver vários eventos no verão, em termos da associação, como a festa do imigrante ou o torneio de inter-lugares. Mas não pôde ser, infelizmente, ainda por cima este ano que tínhamos melhores condições. São vários eventos para angariar fundos e que foram por água abaixo, o que nos deu um grande prejuízo a nível financeiro e até de projeção. Mas temos de viver com a realidade e adaptar-nos.
Acalenta o sonho do Balasar puder ser no futuro uma entidade formadora na associação e na federação. Esse processo parou por causa da pandemia?
Não, estamos a trabalhar nisso e em contacto com a associação do Porto. Estamos a preparar tudo para sermos formadores.
Quanto tempo vai demorar a estar concluído?
Mais dois anos. Só lá para final de 2021, se as coisas melhorarem em termos de pandemia, ou princípio de 2022.
Após a certificação, o Balasar se tiver algum jogador formado que vá para outro clube, poderá beneficiar financeiramente?
É esse o grande objetivo, porque de outra forma não há hipótese. Temos instalações para cuidar, muitas despesas e temos de ser um clube amador, mas a trabalhar profissionalmente. É preciso salvaguardar o futuro. Se nos vierem buscar um jovem atleta de qualidade, têm de nos pagar pelo trabalho que desenvolvemos.
O movimento do clube, independentemente de estar parado nesta altura, quantos atletas envolve?
Perto de 200.
A maioria são da freguesia?
Não são todos porque a freguesia não tem tantos miúdos assim para jogar à bola. Mas são daqui das freguesias vizinhas, com quem nos damos bem, e eles gostam de vir para o Balasar porque somos um povo que sabe receber e eles sentem-se em casa.
As novas instalações atraíram mais atletas das redondezas?
Sim. Nos anos anteriores eramos nós que íamos a casa deles pedir para eles virem, mas neste momento já temos miúdos que vêm ter connosco recomendados pelos amigos. As condições são boas.
Quanto ao José Cancela, é presidente desde quando?
Desde 2012, sendo que antes fui dirigente. Quando eu entrei foi quando saiu o Pedro Faria para o Varzim. Já tinha estado cá duas vezes: com o presidente da Junta que foi presidente da associação e com a direção anterior.
Os objetivos como presidente, à partida, não eram porventura tão longos, mas agora, com a pandemia, terá de ficar mais tempo…
Eu tinha o sonho de projetar este clube, juntamente com os meus colegas, e o mérito é de todos. Se fosse só eu, se calhar ao fim de um mês já tinha ido embora porque não conseguia fazer tudo. O trabalho é graças aos homens e mulheres que fazem isto com paixão. Sem isso não vamos a lado nenhum. Tenho tido pessoas de muito valor que me têm ajudado.
Enquanto perdurar esta pandemia e instabilidade, irá ficar à frente do clube?
Vou-me mantendo, não sou homem de abandonar os projetos numa altura de crise. Tenho mandato até junho de 2021, mas, se isto se mantiver e não houver ninguém, e se a minha equipa quiser me acompanhar, eu não vou deixar isto morrer. Quando tudo melhorar e tivermos o clube em condições de haver outras pessoas que tomem as rédeas, então daremos o lugar a eles. São 8 anos e já começa a ser muito tempo e há que dar lugar a outros. Mas nesta fase estou de pedra e cal.