A HORPOZIM, associação empresarial hortícola sediada em Aguçadoura, Póvoa de Varzim, dirigiu na semana passada uma missiva ao ministério da Agricultura, alertando para as dificuldades vividas ao longo deste período de pandemia.
Para além do encerramento de canais de escoamento como a hotelaria, restauração ou exportação, houve perda de produção pela falta de mercado e uma baixa dos preços médios de venda. “Os nossos associados têm compromissos e obrigações que se vêm na eminência de não poder cumprir, e as ajudas diretas ao setor não foram até ao momento nenhumas. Além de sugestões para ajudar a minimizar os custos de produção, pedimos que a região, caraterizada pelo minifúndio e mão de obra familiar, possa ser vista não como privilegiada, mas sim igual às outras”, explicou Manuel António Silva, presidente da HORPOZIM, acrescentando:
“No ano de 2020 houve uma redução no volume total de faturação de 40%, cerca de 30 milhões de euros. Se, por um lado, as quantidades movimentadas foram menores, por outro os valores médios de comercialização estiveram abaixo de anos anteriores”.
Houve quem não tivesse razão de queixa, face às diferentes épocas de colheitas, mas para a grande maioria o ano foi negativo. “Neste período mais recente há uma redução de oferta motivada pela descapitalização dos empresários, mas também por verem de uma forma realista a ausência de procura”.
“Ausência de turismo penaliza-nos fortemente”
Também as relações comerciais com o exterior estão a ser prejudicadas: “Estamos a menos de 100km da Galiza e temos intensas relações comerciais com vendas significativas que, neste período de tempo, foram bastante menores. As janelas de oportunidade para o resto da Europa foram fortuitas, pois os outros países têm tido medidas de confinamento mais apertadas, fazendo com que as quantidades exportadas sejam irrisórias face ao passado. Se pensarmos que ao nível local teríamos em condições normais a entrada de 1 milhão de turistas a aterrar no aeroporto Sá Carneiro, constatamos que a ausência de turismo nos penaliza fortemente”.
Sobre a possibilidade de desemprego nesta área de atividade, Manuel Silva observa: “No nosso setor prevalece o espírito de entreajuda e auxílio familiar, e estamos a enfrentar tempos em que nos teremos que amparar mutuamente. O desemprego à nossa volta tem aumentado, mas no campo haverá sempre trabalho. A sazonalidade da atividade faz com que haja tempos mais complicados como a época de inverno, e por isso é que esta gente que cria o seu próprio posto de trabalho deveria ser apoiada, porque, para todos os efeitos, não contam para o fundo de desemprego”.
Em jeito de conclusão, o responsável pela HORPOZIM reitera que a agricultura não quer quaisquer privilégios a nível de subsídios. Apenas não quer ser deixada para trás: “É preocupante a ausência de atenção que as autoridades competentes têm prestado ao setor, pensando que outros estarão pior do que nós. Não queremos a primazia do apoio, mas também não queremos é ser esquecidos. Alertarmos para as nossas dificuldades é um aviso para todos os outros, pois mais cedo ou mais tarde veremos isto alastrar-se aos agentes económicos que connosco se relacionam. Aquilo que é um problema setorial passará a ser um problema para a economia local, com efeitos nefastos também sobre a componente social”.