David Santos
Até muito recentemente Passos Coelho nenhuma proposta tinha para apresentar aos Portugueses. Só falava do passado – não dos últimos quatro anos, que esses “queimam” – mas do mais afastado, já julgado politicamente em 2011, mas que ele insiste em manter presente para tentar fazer esquecer a destruição do País que ele e o seu Governo provocaram, sobretudo vendendo-o ao desbarato. Propostas para o futuro, nenhuma!
Eis que de repente, num rasgo de genialidade, Passos Coelho descobre a solução para os problemas dos Portugueses. Confrontado pelos lesados do BES, apressa-se a alijar responsabilidades, respondendo que não tem nada a ver com o assunto e que eles se devem queixar nos tribunais. E aproveita a oportunidade para apresentar a sua primeira grande proposta eleitoral: compromete-se a organizar uma subscrição pública para os ajudar a recorrer aos tribunais e a ser o primeiro a “abaixo assinar” tal subscrição.
Em vez de resolver politicamente um problema em que o seu Governo tem muitas responsabilidades, entende que a solução passa por dar uma esmola aos lesados do BES. Lamentável! E, sendo tais processos contra o Novo Banco e o Banco de Portugal, com essa esmola quer ajudar os ditos a processarem instituições públicas. Para um candidato a primeiro-ministro é obra!
Mas provavelmente não ficará por aqui. Aguarda-se agora o anúncio duma outra subscrição pública para apoiar as centenas de milhar de desempregados já excluídos do subsídio de desemprego. Perante o drama desta gente, com sérias dificuldades de subsistência, Passos Coelho, se continuar como responsável do Governo do País, propõe-se substituir o Estado Social pela política da esmola. Talvez faça também um peditório para ajudar os portugueses sem recursos a comprar os medicamentos de que necessitam.
E não virá também a propor uma subscrição pública, de que será o primeiro signatário, para “ajudar” os jovens a emigrar? É que as despesas iniciais de quem vai para um país estrangeiro são sempre expressivas. E por que não para apoiar os pequenos empresários que, sem condições de financiamento na banca, se têm visto obrigados a fechar os seus negócios?
Quem desesperava pela ausência de propostas da coligação certamente estará agora mais descansado. As propostas aí estão. Subscrições públicas. Peditórios. E – solução brilhante! – sem aumentar o défice. Serão novamente os Portugueses a pagar, mas voluntariamente! É este o grande programa eleitoral da coligação PSD-CDS. Passos Coelho é mesmo um político genial!