Poveira no norte de Itália: “Precisamos de autorização para circular na rua”

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2006

Sofia Baltazar, poveira de 45 anos a viver em Itália, país que é agora o epicentro mundial do coronavírus, reside com marido e filhas em Modena, a menos de uma hora de Bolonha.

Tal como no resto do país, as ruas assemelham-se a um deserto. Por ali, só se sai para trabalhar ou ir às compras. “Podemos sair de casa na área de residência para compras de bens essenciais, passear o cão perto de casa e fazer atividade desportiva solitária ao ar livre. Fora da área de residência, somente com autorização por motivo de trabalho e assistências de saúde”, conta-nos Sofia. “Não estou em quarentena e ninguém da minha família fez o teste porque não temos sintomas”.

De facto, as regras de isolamento impostas no país determinam que ninguém pode circular, a menos que haja uma razão válida. Para a comprovar, todas as pessoas têm de andar com uma declaração na rua. “Existe muito controlo. Sair de casa só mesmo por necessidade. Agora que está tudo fechado, controlam as pessoas para ver se temos a justificação para andares de uma zona para a outra”, continua. “Vê-se pouca gente nas ruas, apenas aquelas que são obrigadas a sair. Algumas usam máscara e luvas, mas a verdade é que as máscaras são difíceis de encontrar”, relata. “A vida mudou e muito. Aliás, a vida social é inexistente, só fazemos casa-trabalho”. Pelo menos, comida não falta e muitas lojas disponibilizam entrega ao domicílio gratuito.

Mas tudo isto são restrições que a poveira entende em prol do bem geral. “Vive-se num estado de alerta. As pessoas estão preocupadas e com algum medo, mas tudo muito contido. Os nossos comportamentos servem para proteger. Trata-se de solidariedade para o bem de todos”.

“Itália serve de exemplo a todas as nações”

Sofia lembra que em Itália o problema da Covid-19 evoluiu tão rapidamente que “o nosso governo mudava os decretos quase semanalmente”.

“Este vírus corre a uma velocidade inexplicável. Acho que a Itália está a servir de exemplo para todas as nações, e Portugal tem que antecipar o tempo. Se Portugal tomar as decisões justas, acho que não será difícil conter a pandemia. Mas o problema é o sentido cívico das pessoas. Se elas não compreendem a gravidade da situação, vão continuar a ir para a rua sem pensar que estão a meter em risco a saúde dos outros e a própria”, avisa.