“A pandemia não apanhou a Junta da Póvoa desprevenida no apoio à população”

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A Feira de Artesanato e Velharias, agora sob responsabilidade da Junta de Póvoa de Varzim, Beiriz e Argivai, terá condições para arrancar em dezembro, caso o contexto pandémico assim o permita. O presidente da União das Freguesias, Ricardo Silva, explica em entrevista que já há cerca de uma centena de candidatos a lugares na feira. Esta vai promover a história e a cultura da Póvoa, e atrair muia gente de fora, até porque vai passar a realizar-se numa zona à entrada da cidade. Em tempos de pandemia, Ricardo Silva explica que a Junta não foi apanhada desprevenida e que aumentou o apoio às populações, apesar do esforço financeiro a que isso obrigou. Na política, e três anos após a tomada de posse, o autarca diz que a Junta é hoje radicalmente diferente – para melhor – do que aquilo que encontrou. Acabou-se com “a arbitrariedade” na atribuição de subsídios e ajudas sociais, e a Junta passou a ter a contabilidade “organizada”, comenta. Já o ano que falta deste mandato será para concretizar várias obras de relevo nas três localidades que lidera. Para depois disso, só os eleitores poderão decidir.

A organização da Feira de Velharias, à qual será associada a feira de artesanato, passou para a responsabilidade da junta da Póvoa. Para quando está prevista a reabertura da feira?

O facto de ser a Junta de Freguesia a assumir a organização de uma feira obriga a uma série de formalidades. Primeiro teve de ser apreciada a delegação da competência pela Assembleia Municipal, sendo aprovada por unanimidade. Ou seja, todos os partidos representados em Assembleia consideram que a Feira deve ser entregue à Junta. Agora é preciso aprovar o regulamento de funcionamento da Feira. Numa Feira de Artesanato e Velharias, não pode estar tudo à venda, nem pode o espaço ser ocupado de qualquer forma. Esta foi uma das principais razões para que a Feira passasse a ser organizada pela Junta. O processo estará pronto a tempo de fazermos feira em dezembro, reservando sempre esta decisão em função da evolução da pandemia e das recomendações da DGS.

A feira terá um novo espaço, na praça em frente à escola Rocha Peixoto. O porquê da escolha deste local?

A Praça Luís de Camões é um local muito aprazível, arborizado, com longos passeios e cercada por muitos lugares de estacionamento. Parece-me que estes são já bons argumentos. Resta, ainda, dizer que a Praça encontra-se numa das principais entradas da cidade, e este tipo de feiras é muito frequentado por pessoas que vêm de fora.

Desde que foi anunciada a passagem da feira para a Junta, já foi contactado pelos feirantes? E o que lhes transmitiu?

Logo que surgiu a notícia do parecer favorável da Câmara Municipal fui contactado pelos feirantes. Há muitas pessoas da Póvoa a fazer estas feiras. Resulta daí termos já feita uma base de dados de candidatos a lugares na Feira, um número que ascende já a uma centena.

Em relação à anterior feira, quais as diferenças que propõe? Haverá um regulamento próprio e em que consiste o mesmo?

Já há um regulamento feito pela Junta, que terá de ser aprovado pela nossa Assembleia de Freguesia. Haverá regras na ocupação do espaço e regras sobre aquilo que se pode vender na feira. Por exemplo, os vendedores de velharias não poderão vender artigos novos. O que se pretende é criar uma verdadeira Feira de Velharias e de Artesanato, que dignifique o espaço e chame gente à Póvoa.

A feira será na mesma uma vez por mês? E qual o domingo que propõe?

Mantém-se a realização ao 2º domingo do mês, durante todo o dia.

Às velharias acresce o artesanato local. Era importante surgir esta vertente?

Há muito defendo que a grande riqueza da Póvoa é a nossa cultura e o nosso povo. É necessário continuar a apostar nessa riqueza, criando espaço para que manifestações culturais como o artesanato se desenvolvam. A Feira de Artesanato cria este espaço de oportunidade. Vamos ainda apresentar a candidatura da UFPVBA ao Programa de Promoção das Artes e Ofícios do IEFP que financia a realização de Feiras de Artesanato. Esta parceria permitirá também apoiar com formação específica os artesãos e colaborar na certificação de Produções Artesanais Locais.

Há muitas pessoas no concelho a quererem divulgar o artesanato?

O nosso concelho tem uma história profunda na produção de peças de artesanato. Uma decorrência de 150 anos como principal destino turístico do Norte de Portugal. A proliferação internacional da Camisola Poveira resulta daí, bem como a produção de miniaturas de barcos, presépios de algas e as peças em conchas do mar. A quantidade de cesteiros espalhados pela cidade, que eram os principais comerciantes destes artigos é testemunha disso. Hoje surgem cada vez mais artesãos, com diferentes mesteres: pintura, modelagem, rendilheiras e marcenaria. Há muita gente com capacidade, habilidade e especialmente com espírito empreendedor na Póvoa. Terão aqui uma oportunidade para mostrar a sua arte.  

Admite que a feira possa ter animação?

Será um evento mensal, ao domingo, pelo que a Junta criará um programa de animação do local. Vamos organizar leilões de peças, oficinas de artesanato, concursos de peças de temática poveira e espetáculos. Temos parcerias com as nossas Associações Culturais e Recreativas que têm sempre colaborado com a Junta, nos eventos que organizamos. O objetivo declarado da feira também é o de atrair turistas, não vejo a feira como uma fonte de receita para a Junta, mas como um investimento na nossa cultura e na animação da cidade.

Qual a sua opinião, ao ter verificado que a passagem da feira para a junta foi aprovada por unanimidade em Assembleia Municipal?

A pretensão de criar uma feira de artesanato na Póvoa era já uma ideia da dra. Lucinda Amorim e a feira foi também aprovada por unanimidade por toda a vereação. Tivemos o cuidado de fundamentar o nosso projeto e eu mesmo apresentei as nossas motivações na Assembleia Municipal. Vejo a unanimidade desta aprovação como um reconhecimento do trabalho que tem sido feito pela Junta de Freguesia e uma aposta clara no papel que a Junta pode ter na Cidade.

Numa altura de pandemia e com a preocupação social é importante que os feirantes tenham um espaço para venderem os seus produtos?

A pandemia surge como um problema de saúde, mas rapidamente se transformou num problema social. As feiras, pela sua natureza informal, são oportunidades para escoamento de produtos e contribuem para a economia familiar. Como se trata de uma feira de velharias e de artesanato, o regulamento também prevê que as Instituições de solidariedade social podem participar a título gratuito. Dou como exemplo o MAPADI, que já participa semanalmente na Feira das Moninhas vendendo os seus produtos hortícolas, e nesta Feira poderá escoar a produção das suas oficinas de labores.

Pandemia

Que apoios tem dado a junta à população?

A pandemia não apanhou a Junta da Póvoa desprevenida em termos de apoio à população. Rapidamente foi apresentado plano de contingência para que a Junta permanecesse aberta na Póvoa, Beiriz e Argivai. Foram reforçados financeiramente programas pré-existentes de apoio à população como o Cabaz de Emergência, a Junta ao Cidadão e Junta ao Domicílio. As delegações de Beiriz e Argivai tiveram um importante papel ao manter em funcionamento, logo que houve condições do posto dos CTT, fazendo o pagamento de reformas e atestando as Provas de Vida. A declaração de confinamento fez com que o serviço ao domicílio da Junta se tornasse ocupação diária de 4 funcionários que iam fazer as compras à Farmácia e ao mercado e levar refeições a quem não podia sair de casa. Todo o serviço social da Junta manteve-se ativo e disponível para a população: aumentaram as visitas ao domicílio, o apoio psicológico, o roupeiro social e entregaram-se 300 cabazes alimentares. O mais importante de tudo foi a Junta, nas suas 5 delegações, se ter mantido aberta e disponível para ajudar quem precisava.

Tem sido contactado para apoios específicos?

Como tinha referido, a Junta não fechou. Manteve e aumentou a sua ajuda à população. Assim, serviços como o Apoio ao Cidadão, em que a junta assume o papel de intermediário entre as pessoas e os serviços públicos tiveram uma enorme procura, porque nem todos conseguem tratar dos seus problemas através das plataformas digitais. É na junta que as pessoas da Póvoa de Varzim, Beiriz e Argivai recorrem para marcar consultas, pedir receitas e juntas médicas ao Centro de saúde, fazer o preenchimento do IRS e requerer o Imposto de Selo junto das Finanças, pedir a renovação de Cartão de Cidadão Online, alterações de morada e pedido de passaportes junto do Instituto de Registo e Notariado. Fazemos as inscrições e marcamos atendimentos para o IEFP. Requeremos as senhas, marcamos atendimento e fazemos a requisição de pensões e de RSI junto da Segurança Social. Recentemente estamos também a tratar do processo de pedido do Cartão de ex-combatente ao Ministério da Defesa. Assumimos a nossa vocação de serviço público de proximidade.

Quanto dinheiro já despendeu a junta com a situação da Covid-19 no apoio social?

A questão financeira tem sido dos nossos principais problemas. A Junta perdeu com a suspensão da Feira e cancelamento do S. Pedro 45.000,00 da receita prevista para este ano. Para dar um exemplo na ótica da despesa, somente nos cabazes alimentares de emergência assumimos uma despesa que já ronda os 20.000,00. São números que continuam a crescer, porque continuamos a assumir o apoio a quem precisa.

Política

Após ter tomado posse há 3 anos, chegou a referir que encontrou uma Junta com dificuldades em diversos aspetos. Conseguiu inverter a situação e que medidas foram aplicadas?

Tenho orgulho em poder dizer que hoje a Junta é algo completamente diferente daquilo que encontrei. Diferente duma forma tão radical na forma de ser e de agir que duvido muito que os poveiros aceitassem um retrocesso. Hoje as pessoas encontram na Junta muitos serviços de apoio, e cada vez mais a Junta é o sítio onde procuram ajuda em primeiro lugar. Esta é a principal função dum organismo público de proximidade e este era o meu grande objetivo. O que foi mudado? A Junta passou a obedecer a regulamentos previamente aprovados pela Assembleia de Freguesia. Isto acabou com a arbitrariedade na atribuição de subsídios e nas ajudas sociais. A Junta passou a apresentar contas trimestralmente e a ter a contabilidade organizada por uma entidade externa que estabeleceu os procedimentos. A Junta saiu de si mesma dedicando-se a servir a população: apostamos na divulgação da nossa cultura junto dos miúdos com as Férias Poveiras no Natal, Páscoa e Verão, organizamos uma Academia Sénior, que antes da pandemia contava com 500 inscrições de maiores de 65 anos. Criamos respostas sociais como as obras ao domicílio, a ajuda de fraldas geriátricas e os cabazes de emergência. Apostamos na recuperação do património de Beiriz e Argivai, investindo na sua identidade como freguesias.

A menos de um ano das eleições autárquicas, concretizou muitos projetos do seu programa eleitoral. O que ainda pretende executar até ao final do mandato?

Resta-me um ano para concretizar uma série de obras, que pela sua dimensão, têm vindo a ser preparadas em termos de concursos e projetos. Estamos na fase final do cemitério de Beiriz, uma ampliação muito necessária que mais do que duplica a área do cemitério atual. Tenho também em conclusão o Projeto do Edifício e Parque Lazer de Beiriz que está prestes a arrancar. Em Argivai vamos transformar a Rua do Padre José Geraldo Oliveira numa avenida até à Igreja e avançam agora os passeios da Nacional 206.  Pretendo instalar ainda dois Parques Infantis em Argivai e Beiriz, porque é importante continuarmos a apostar em espaços de Lazer. Com o mesmo objetivo vamos construir em Argivai a fase final do Parque do Anjo, com a instalação de uma quintinha pedagógica com várias espécies de animais domésticos e reflorestar com árvores autóctones. Na Póvoa de Varzim, espero com a ajuda do município conseguir dar aos poveiros e aos funcionários, as muito necessárias e condignas instalações da Junta de Freguesia. Este novo espaço será uma mais valia no sentido que nos vai permitir oferecer aos poveiros um conjunto de projetos para as pessoas com um forte cariz comunitário e social, para além de consolidar o projeto da Academia Sénior.

Vai recandidatar-se ao cargo?

Sou poveiro e felizmente os meus pais educaram-me com valores importantes como o amor à minha terra e especialmente na importância da ajuda ao próximo. Tive o grande privilégio de me terem dado a oportunidade de ser Presidente das Freguesias da Póvoa de Varzim, Beiriz e Argivai. Sinto a obrigação de continuar a trabalhar para retribuir a confiança que me foi depositada e continuo disponível para trabalhar pelo povo da Póvoa, Beiriz e Argivai.