A pesca do bacalhau: “Éramos autênticos escravos”

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O mês de dezembro deste ano trouxe consigo a retoma das emissões de Natal da Rádio São Pedro. Diariamente e até 8 de janeiro estão a ser realizadas entrevistas a personalidades da comunidade poveira, no âmbito de abordar temas ligados aos usos e costumes, como à cultura do concelho da Póvoa de Varzim.

António Marques, também conhecido por Sr. Toni, passou grande parte da sua vida no mar, e, apesar de ter nascido em Matosinhos, considera-se “um poveiro de gema”.

Aos 14 anos começou a trabalhar com o seu pai, a rotina passou a ser: “da pesca da sardinha, almoçava, à tarde tinha de frequentar a escola, e no fim da escola, voltava ao barco novamente”, conta António Marques.

A pesca do bacalhau sempre foi ofício na família de António Marques, o pai, o irmão mais velho e até primo faziam parte do grupo de homens que se lançavam ao mar.

Quando desistiu da pesca do bacalhau, o pai de António foi obrigado a pedir ao filho para que este fosse em seu lugar, “foi a primeira vez que vi o meu pai chorar”.

“Eu fui”, no cais do Sodré embarcou pela primeira vez, “era uma novidade, sempre fui aventureiro, quis ver como aquilo era”.

Seis meses sem ver a família

Eram 6 meses passados em “isolamento”, sem ver a família, sem ver os amigos. A trajetória começava em Lisboa, com paragem na Terra Nova, onde se pescava durante 2 a 3 dias para abastecer, seguidamente, paravam em Stº George, e, como última paragem, antes de regressar a casa, ficavam pela Gronelândia.

“Não tínhamos hora para dormir, hora para acordar, hora para trabalhar, éramos autênticos escravos”, chegavam a trabalhar 36 horas consecutivas. Um pão com marmelada e um café, era a refeição do dia. Um litro de água tinha de ser suficiente para tomar banho. Era assim o quotidiano destes pescadores.

Lembra que a fugir de um ciclone, “assisti a um naufrágio” perto da Terra Nova, o barco dos náufragos teria sido “abalroado” por outra embarcação. Pelas 04h00 da manhã, António Marque dirigia-se ao local onde os seus companheiros estariam a descansar, calmamente acordando os demais, para que estes ajudassem no resgate. Tendo sido um dos episódios “mais dramáticos” vividos pelo poveiro.

Após deixar a pesca, em 1973, foi trabalhar para o Casino da Póvoa durante 6 meses, seguidamente, acabou por integrar a empresa têxtil Maconde.