Caçador de leões

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Os varzinistas acordaram na segunda-feira talvez a pensar que ainda há milagres neste mundo. A queda dos leões aos pés dos lobos do mar, pode ficar como marco especial na vida do centenário Varzim, mas não se tratou de qualquer milagre e fator de sorte, embora, como se sabe, no futebol faz sempre jeito um poucochinho de sorte para se embandeirar em arco.

O Varzim vestiu a pele de herói ao afastar da Taça de Portugal o poderoso Sporting, com estatuto de grande senhor não só neste país de marinheiros, como também por esse mundo além. Foi uma vitória magrinha, apenas por 1-0, mas gorda e bem nutrida para ilustrar o historial varzinista. Foi assim uma espécie de “vingança” do que acontecera na época passada, também na prova-rainha do futebol português, quando, em pleno ‘covil leonino’, teve de sucumbir ao cair do pano (2-1 aos 81’), já quando o prolongamento estava à porta, onde poderia acontecer tudo, até o bater de pé dos varzinistas que mesmo assim ficou bem estampado mesmo com a derrota.

Da chamada “vingança” encarregou-se o defesa central João Faria (que não fez jus ao “modo condicional presente do verbo fazer”, como ensina o dicionário), mas fazendo mesmo, tornando o seu apelido bastante real, ao marcar o golo do triunfo, com uma “tolada” que deixou os leões de cabeça perdida para poder prosseguir a sua caminha na Taça de Portugal. Aliás o jogador varzinista teve até o gesto de puxar pelos seus galões de capitão da equipa, para mostrar na sua terra natal (no Estádio do clube onde fez toda a sua formação), que conhece bem os cantos à (antiga) casa e sair do seu reduto para entrar vitorioso na ‘selva leonina’ e fazer estragos para quem se arvora (com todo o mérito) como um dos grandes do futebol nacional e internacional.

Com esse gesto e arte de cabecear a bola, aconteceu em Barcelos, na casa emprestada aos varzinistas, um dos casos que enriquece a Taça de Portugal, denominado de tomba-gigantes. Dizia o cidadão barcelense e jogador varzinista João Faria, na previsão pública a anteceder o jogo, que iriam defrontar-se “dois grandes numa luta de gigantes”. E assim aconteceu. Só que do lado poveiro o gigantismo foi maior, nas bancadas, com cerca de cinco milhares de aptos a “colorir” de preto e branco, no apoio ao seu clube do coração, em número maior do que acontecia no lado oposto. E foi por sobre o tapete verde do relvado que os equipados de azul (não relacionado com os representantes de Belém mas sim envergando as cores do concelho poveiro em homenagem ao apoio logístico e não só que tem sido alvo dos seus munícipes), corresponderam à enchente postada nas bancadas, enchendo por completo a maioria dos sectores do recinto barcelense, em encherem-se de brios e “fizeram das tripas coração” (na gíria popular) para mostrarem ao mundo futebolístico (e fora dele), o que representa e quanto vale a raça varzinista.

Tanto nas bancadas como no relvado, ficou bem interpretada a letra da “Marcha do Varzim”, composta por alguém na década de vinte: “Ser Varzim é combater / É lutar até vencer / Pela conquista da bola / É ter fé, ter a certeza / É trazer a alma presa / À malha da camisola. Eh! lá rapazes, lutar / Porque é preciso ganhar/ Vibrar na luta, sofrer / Porque queremos vencer. Ser Varzim é afinal / Ser corajoso, leal / É querer com devoção / à sua Póvoa querida / Que é razão da sua vida / Trazê-la no coração”
Querem melhor interpretação à letra do que a demonstrada no domingo, pelos jogadores e adeptos, no já bastante simbólico Estádio de Barcelos, onde o Varzim, por força das circunstâncias, somou uma vitória para o Campeonato e outra para a Taça de Portugal?

Vem aí o regresso a casa, depois de bem lavada e alindada, para receber o Montalegre para a Liga 3. Um adversário que vem das fraldas transmontanas onde se cultivam as “rezinhas” de um padre para os lados de Vilar de Perdizes e que, oxalá, não traga artes do demónio para ensombrar a carreira brilhante do Varzim que ainda não soube o que é perder esta temporada de grandes transformações diretivas e técnicas e da sala de visitas.