Defender a democracia tem um preço

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Vivemos estas últimas semanas mergulhados em imagens e testemunhos que trazem ao de cima o pior da humanidade, mas ao mesmo tempo, imagens de “uma guerra pela democracia, pela liberdade”, como referiu em entrevista a um canal de televisão americano, Volodymir Zelensky.

Se por um lado sentimos uma revolta generalizada contra esta invasão da Rússia à Ucrânia, por outro, assistimos a uma revolta também ela generalizada contra o aumento dos combustíveis, da energia, do ferro, do pão entre outros bens, como se esse aumento exponencial fosse originado pelos Governos ou pela União Europeia. Não podemos enquanto sociedade defensora dos princípios da liberdade, da igualdade e da fraternidade, repudiar os atos da Rússia e do seu regime e ao mesmo tempo continuarmos a comprar o seu petróleo e gás só porque nos dá jeito, apenas para manter a economia que todos gostaríamos de ter. Fico sempre com a sensação de que só ficamos satisfeitos quando temos ao mesmo tempo “sol na eira e chuva no nabal”,

Não adianta fazer de conta que este não é um problema global, pois este aumento que temos sentido e vamos continuar a sentir é também, o reflexo e consequência das nossas decisões, e se queremos continuar a defender os nossos princípios e a nossa democracia, temos então, enquanto sociedade, de assumir a nossa quota-parte, e ainda, assumir de uma forma clara, que a defesa destes princípios implica um esforço de cada um de nós, e implica ainda, por muito que nos custe, abastecer mais caro todas as segundas-feiras.

Por outro lado, talvez possamos olhar para esta Guerra e o seu impacto na economia como uma oportunidade, a da eliminação gradual da utilização de combustíveis fósseis nas próximas décadas, como previsto no Acordo de Paris, a da diminuição das emissões de gases, o aumento da aposta nas energias renováveis, a resolução da falta de moderação no consumo da água, e, ao mesmo tempo, proteger a integridade dos ecossistemas e da biodiversidade do planeta, como proposto nas metas de Aichi. Esta pode ser uma oportunidade para que Governos e Cidades possam colmatar o impacto ambiental do ser humano, optando pela economia circular, pela redução de consumo, pelo combate ao desperdício, pela separação dos resíduos, pela diminuição do recurso aos automóveis consumidores de combustíveis fósseis, apostando sempre que possível em mobilidade suave.

As cidades têm sem dúvida um papel fundamental na aceleração deste processo, pois estas apesar de representarem apenas 3% do território no planeta, produzem cerca de 75% de todas as emissões globais de gases com efeitos de estufa e concentram cerca de 70% da população mundial. Em Portugal por exemplo, prevê-se que em 2030 a concentração da população nas cidades passe para 71 a 79% da população, aumentando a responsabilidade das mesmas em matéria ambiental, pois estas desempenham um papel essencial na mudança para um futuro verde e sustentável e têm acima de tudo potencial para liderar esse caminho.

Essa liderança traz aos Autarcas uma responsabilidade acrescida nesta altura, a responsabilidade de incentivar uma verdadeira mudança de paradigma, pois é nas ações práticas no seu território que se dá uma transformação e uma mudança mais eficazes, uma verdadeira alteração de comportamentos e de consciencialização dos cidadãos. A pessoa, é influenciada e age em função do ambiente que a rodeia, saibamos assim criar as condições para que possamos todos contribuir para um mundo mais sustentável, e acima de tudo, menos dependente dos recursos naturais não renováveis de países onde a falta de democracia é evidente, pondo em causa toda a estabilidade mundial.

Este momento de profunda crise, deve à semelhança de outras, ser também encarada como uma oportunidade de mudarmos o nosso estilo de vida.