Desacelerar a pressa para acelerar a calma que precisamos – Opinião de Sara Rocha

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Nas próximas semanas a comunidade poveira vai ter de acelerar a sua criatividade e imaginação para conseguimos desacelerar o ritmo frenético em que vivemos. Ir além do inevitável para construir um mundo melhor.

Ouvi recentemente num evento que precisamos de “acelerar a economia”. Fiquei a pensar… acelerar em que sentido? Continuando no caminho em que estamos ou na procura de caminhos alternativos?

Ao fim de dez meses de implementação do projeto de literacia climática, em parceria com a Biblioteca Municipal Rocha Peixoto, se houve palavra de ordem que foi ganhando forma nas inúmeras atividades feitas, foi a necessidade de desacelerar o metabolismo das nossas vidas. Para podermos, desde logo, estar presentes, sentir (sentirmo-nos), viver. Depois, ter capacidade para imaginar possibilidades, pensar estrategicamente, arriscar, criar, divergir, seguir em frente.

Sim, precisamos desacelerar, para simplificar necessidades, para aprender a mudar o pneu de uma bicicleta, a remendar um casaco com estilo, a cozinhar uma refeição saudável. E precisamos desacelerar para poder, na verdade, acelerar: a nossa imaginação, a nossa criatividade e a nossa capacidade de agir dentro de um novo paradigma. O paradigma de uma vida baseada numa ética ecológica, onde cuidar do mundo que nos rodeia é um gesto de auto-cuidado consciente. Sem greenwashing, ou seja, para valer, permeando tudo o que fazemos. Isto parece desafiante, e é, mas o hábito de bloquear a nossa imaginação devido ao pragmatismo a que as pressas nos obrigam, frustra com frequência esse ímpeto natural de criar coisas onde elas ainda não existem.

Na minha experiência associativa testemunhei e forjei várias conquistas que guardo com carinho, mas contabilizo mais falhanços do que vitórias. E isto acontece porque muitas vezes vivemos entrincheirados em grupos, nos quais assumimos certos códigos identitários e de conduta que nos protegem, mas que nos podem isolar (e empobrecer) quando perdemos essa curiosidade primária de fazer perguntas perante a diferença. Quantas vezes vi projetos a definhar porque o ativismo não vive só de amor, ar e vento. Quantas vezes vi pessoas a enrijecer porque fazer valer a sua causa é flor em terreno hostil e exige uma entrega absoluta que as priva de muitas coisas. Quantas vezes vi programas e projetos institucionais a não ter continuidade porque não conseguiram envolver as pessoas, fazendo-as parte do processo sem instrumentalizar a sua participação.

Para acelerar uma ação efetiva de transformação profunda das nossas comunidades, das nossas economias locais, das nossas mentalidades e das nossas políticas, precisamos de caminhar entre fronteiras, de ir além das trincheiras, de criar ligações entre diferentes arenas (a governamental, a sociedade civil, as empresas, as escolas, a população, etc.) para criar condições que potenciem a nossa capacidade em gerar soluções que nos permitam, rapidamente, inverter o atual rumo de perda de recursos naturais e de biodiversidade, de perda de segurança, de saúde, de paz e de qualidade de vida das sociedades humanas.

Muitas vezes precisamos de outros, de recursos que não temos, para dar o salto. Hoje esta interdependência é determinante para termos sucesso. O Centro do Clima assume como desígnio fundamental apoiar na geração de condições para construir pontes entre mundos, entre as ideias e anseios dos cidadãos e os recursos do tecido institucional, entre o conhecimento académico e o saber da prática de pessoas que dedicam as suas vidas a aprender para fazer.

Neste último mês temos desafiado a comunidade poveira a atrever-se a dar asas à imaginação: E se libertássemos a nossa imaginação para criar a Póvoa de Varzim que desejamos? Qual a Póvoa com que sonha? E se ainda não consegue sonhar alto, diga-nos o que precisa ser visto e discutido, nós queremos saber! Visite a biblioteca e pergunte pelo Mural “E se…?”, deixe lá o seu recado. E porque o mundo não se transforma só com ideias, estamos a trabalhar para criar condições que viabilizem essas ideias. Para já, veja só a oportunidade aberta:

  • até às 18h do dia 29 de novembro candidate o seu projeto ao concurso de soluções imaginativas para a ação climática “E se…?” e pode ganhar 5.000EUR para implementar a sua ideia. Está tudo explicado aqui: centrodoclima.pt/concurso

Percebe agora que temos de acelerar, mas noutro sentido? Naquele que tem múltiplos caminhos em aberto, diversos, mas convergentes para uma transformação positiva, para uma vida mais resiliente, justa, saudável e feliz.

Sara Rocha, Centro do Clima