Telescola e a doutrinação!

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Vivemos tempos exigentes e difíceis. Somos desafiados a reinventarmo-nos e adaptarmo-nos a novas formas de trabalho e aprendizagem. Desde os profissionais de saúde, aos professores, os polícias, os comerciantes e muitos outros profissionais mostram resiliência e elevada capacidade de adaptação para responder positivamente aos desafios que lhes são colocados.

No que diz respeito ao ensino, a telescola foi a solução encontrada para chegar aos alunos que não têm internet, mas depressa cativou miúdos e graúdos! Os professores mostraram a sua criatividade e capacidade de inovação e o programa “estudo em Casa” da RTP Memória foi o programa mais visto no dia de estreia.

As motivações dos telespectadores são inúmeras, desde a oportunidade para recordar o tempo em que o 5º e 6º ano era lecionado na televisão a preto e branco, uma forma de recordar ou adquirir novos conhecimentos, ou até ocupar o excesso de tempo livre. Este modelo de ensino permite a qualquer pessoa perceber os conteúdos que estão a ser ensinados aos alunos! Alunos estes, que serão os professores, médicos, decisores políticos de amanhã.

Das aulas lecionadas a aula de Ciências Naturais do 7º e 8º ano do dia 13 de maio mereceu especial atenção e destaque! Foi projetado um slide intitulado “Impactes da exploração dos recursos agropecuários” que menciona que a agricultura intensiva leva a uma “utilização excessiva de fertilizantes, pesticidas e herbicidas” e que as explorações agropecuárias fazem “uso inadequado de antibióticos e de hormonas de crescimento”. Além disto a professora de Ciências garantiu ainda que a introdução de organismos geneticamente modificados (OGM) são “riscos para a saúde humana e para o ambiente”.

Sabemos que nos últimos anos, todos os setores de atividade sofreram profundas alterações na sequência da evolução tecnológica. Aperfeiçoaram-se práticas, introduziram-se novas metodologias de trabalho com o objetivo de aumentar a eficiência e preservar/potenciar os recursos. A agricultura não foi exceção. Nos últimos 30 anos assistimos a uma grande evolução na agricultura, na exploração dos recursos agropecuários, nas práticas agrícolas e no manuseamento do solo.

Tal como conclui Charles Darwin na Teoria de Seleção Natural “não é o mais forte que sobrevive, mas o que melhor se adapta à mudança”. Atualmente, os agricultores trabalham eficientemente para obter alguma margem de lucro, margem esta cada vez menor e que exige saber, técnica e capacidade de gestão. A utilização de fertilizantes, pesticidas e herbicidas em excesso não constitui de todo uma prática comum nos dias de hoje e tem custos elevados. A utilização de antibióticos ocorre pontualmente
e mediante recomendação de médicos veterinários, sendo respeitado os intervalos de segurança impostos. A aplicação de antibióticos é rigorosamente controla. A título de exemplo, no setor do leite, sempre que a empresa de recolha efetua uma carga na casa do produtor, este leite é rigorosamente analisado, não havendo qualquer possibilidade de chegar ao consumidor leite com inibidores. Além disso a ASAE controla diariamente os produtos do mercado no que diz respeito à aplicação de hormonas de crescimento, uma leitura rápida à legislação portuguesa evidencia que é proibida em Portugal.

Ensinar não é sinonimo de doutrinar ou transmitir “informação controlada” é promover aprendizagens úteis e adequadas ao desenvolvimento e evolução. Os manuais necessitam urgentemente de uma revisão e atualização. Parece-me que, da mesma forma que nós agricultores temos um papel proativo em busca de conhecimento e atualização do nosso saber, é fundamental que o ministério da educação e os professores tenham contacto com a realidade atual. Não podemos continuar com ideias preconcebidas acerca da agricultura e muito menos transmitir aos alunos ideias que apenas demonstram desconhecimento sobre as novas tecnologias agrícolas e que não retratam as preocupações ambientais que preocupam o setor. A Natureza tem um papel central na agricultura e ninguém mais interessado que os agricultores em preserva-la e adotar práticas sustentáveis.

Nós, no campo estamos disponíveis para receber o Ministro da Educação, os professores e autores dos livros, partilhar conhecimento, esclarecer dúvidas e dar a conhecer que longe vão os tempos em que ser agricultor era sinónimo de incapacidade, analfabetismo ou ignorância.

Para o bem de todos, para o bem do país, investir na educação é investir em Portugal, porque ensinar pressupõe ciência, verdade e atualização.

Marisa Costa