União derruba barreiras

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Já viram o que são mais de cinco mil espetadores a assistirem a um jogo do terceiro escalão do futebol português? Uma coisa do outro mundo para o reino futebolístico, como ficou badalado por aí fora, na grande e pequena imprensa, e até chegou aos altos órgãos nacionais (AF Porto, por exemplo, congratulando-se publicamente) que também quiseram engrossar o número de quem abriu a boca de espanto. Pois aconteceu no jogo Varzim x Vilaverdense, entre os dois primeiros classificados na série nortenha da Liga 3, realizado no dia 12 deste mês de novembro, tendo como palco o remodelado Estádio do Varzim. Segundo contas oficiais, estavam espalhados pelos quatro setores, precisamente 5131 espectadores.

Tirando os ”trocos” dos 131, ou poucos mais, que desceram do Alto Minho ao mar poveiro, constata-se que à volta de cinco milhares eram afetos ao clube poveiro. Que, obviamente, não deviam ser todos pertencentes aos quadros associativos varzinistas – o que seria “ouro” para os cofres e sustentação do clube mais representativo da Póvoa de Varzim. No entanto serviu para pôr à evidência que neste “Mês de Finados”, o Varzim está vivo e bem vivo, depois de ter atravessado um momento de “vida difícil”, e que, parece, ter feito parte do passado. Toda aquela mole humana, reunida ao fim de uma manhã de sábado, teve oportunidade para ‘tirar a barriga de misérias´ quanto a espetáculos futebolísticos, pois tanto a equipa visitante, como aquela que serviu de anfitriã, “fizeram das tripas coração” na luta pelos três pontos finais. Nenhuma delas conseguiu esse prémio, tendo de contentar-se com uma divisão por igual dos dois pontos do empate, ou seja, um para cada lado. Mas quem sofreu mais, foi sem dúvida o clube poveiro e seus devotados apaniguados. Porque o representante de Vila Verde, que ainda não sofrera qualquer derrota nesta temporada de subida ao terceiro escalão “semi-profissional”, mostrou bem os seus galões, soube escolher as melhores ocasiões para cogitar o golo, e por duas vezes desfeiteou as redes poveiras.

Qualquer equipa a perder em casa por 2-0, frente a adversário bem apetrechado, seria caso para grande desânimo. Seria… mas não foi, antes pelo contrário. Aquela massa humana varzinista, fora das quatro linhas, “puxou” de tal forma os jogadores que envergavam o equipamento listado de alvinegro, que fizeram jus ao tão apregoado amor ao símbolo que trazem ao peito, dando a volta ao resultado, nos derradeiros minutos do jogo e quase que chegavam à vitória já no lavar dos cestos. E bem mereciam esse prémio, porque seria uma forma de saldar aquele entusiástico incitamento sempre patenteado ao longo do jogo e mais ainda quando foi preciso arregaçar as mangas para evitar a derrota, que serviu para o Varzim se manter isolado no comando da série A, “roubando” esse direito ao seu adversário.

Foi até um grande alento para enfrentar o futuro, servindo a paragem de uma semana (o Campeonato só recomeça no dia 26 deste mês, com a penúltima jornada da primeira volta) para respirar fundo e encher os pulmões de ar puro. Podia servir também para a recuperação de alguns jogadores a contas com lesões, mas, infelizmente, não na totalidade, já que o azar bateu à porta do avançado brasileiro Gustavo Souza que contraiu uma lesão grave no joelho quando o Varzim recebeu a equipa B do Vitória de Guimarães e sujeita-se a uma melindrosa intervenção cirúrgica, tendo o clube anunciado, com foros oficiais, que o jogador contratado ao Real Massamá no princípio desta época (com vínculo por mais uma) só estará apto para o final deste Campeonato, quedando-se portanto, nos 7 jogos que atuou na Liga 3 (assinando 3 golos) e nos 3 da Taça de Portugal, onde marcou 2 golos. Será até motivo para os responsáveis varzinistas olharem para o chamado “Mercado de Janeiro” no sentido de recompor tão significativa baixa.

Voltando ao jogo com o Vilaverdense, são bem merecidos os elogios à massa adepta varzinista, por parte dos treinadores das duas equipas. A opinião minhota aponta que “o apoio dos adeptos da casa tirou-nos o triunfo”, enquanto pelo lado caseiro o elogio é mais sintomático ao afirmar perentoriamente que “mesmo a perder por 2-0 as pessoas não desistiram e de mãos dadas com os jogadores foi conseguido mudar o resultado”, reforçando até o elogio ao afirmar que “foram os adeptos que nos levaram a mudar a desvantagem de dois golos”.

Há quanto tempo não se ouve no ambiente varzinista palavras tão justas como estas. Daqueles quatro setores do Estádio saíram constantemente palavras e cânticos de incitamento, aumentando até nos momentos mais difíceis. Apregoa-se aos quatro ventos, quantas vezes em vão, que tem de haver amor ao clube, que os jogadores devem interpretar da melhor forma esse amor ao clube e à camisola, para uma união perfeita e compacta, e não falta até quem traga à baila o amor bairrista, lembrando as raízes familiares dos jogadores. Pois no Varzim esse amor bairrista não pode servir de bandeira principal, já que dos 26 jogadores que compõem o plantel só um é que é ‘poveirinho pela graça de Deus’, o guarda-redes Ricardo Nunes, nascido nesta terra também berço dos seus familiares. Fez toda a formação como jogador no Varzim, de onde saiu na época de 2007/08 para a Académica e daí deambulou pelo União de Leiria, FC Porto B, Vitória de Setúbal e Chaves, tendo regressado às origens em 2020/21, indo já na terceira época, quando soma 40 anos de idade.

O seu valor, aliado à experiência, faz dele um autêntico elo de ligação entre a amálgama de jogadores de várias nacionalidades, onde se contam dezoito portugueses, três brasileiros, dois colombianos, um guineense, outro espanhol e um nigeriano. Seis nacionalidades diferentes que se unem com o símbolo do Varzim em prol de uma causa desportiva com muita força para a sociedade, como é o futebol. E que tantas atenções cria entre a sociedade ao ponto de dar muito pano para mangas a quem se debruça sobre esse tema, onde nos incluímos, sem dúvida.