Há Festa no Bairro Sul… e houve um regresso que saúdo!

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JOSÉ ANDRADE

Quase passou despercebida na imprensa local a revista poveira de costumes locais “ Há Festa no Bairro Sul”, escrita e musicada por José de Azevedo. Um espectáculo de revista que enche o Cine-teatro Garrett durante duas noites, com um público entusiasta que se fartou de cantar e acompanhar com fortes aplausos os 10 actos do programa, não é coisa para subestimar. Não sei mesmo se qualquer espectáculo no género por actores profissionais seria capaz de tal proeza. Eu diria que não. Um espectáculo de amadores- a dar cartas a muitos profissionais!- com duração de três horas, que para alguns foi longo demais e para muitos o tempo passou sem ninguém dar por isso, merecia pelo menos umas linhas de apreciação de crítica ou de louvor. Talvez que a publicidade não fosse tão abrangente ou porque o título afastasse os fanáticos de outros bairros, o facto é que, mesmo com a prata da casa ou com os poveiros saudosos de revistas de vinte anos atrás, a sala rebentou pelas costuras.

A revista, em dois actos e dez quadros, acompanhada com nota de excelência pela Tocata do Rancho da Lapa, teve um pouco de tudo.
Abriu com a marcha “ O nosso bairro tem história” pela Rusga da Lapa, uma marcha que facilmente caiu no ouvido da assistência, a tal ponto que na parte final já toda a gente cantava o refrão: “O meu bairro, tem história/ Bairro Sul tem tradição/Tem na alma dor e glória/ E a Póvoa no coração”. Seguiu-se uma evocação a Susana da Costa, a peixeira que marca uma época pela sua postura, pelo seu linguajar típico e pelo amor à Póvoa. Clarice Marques interpretou, cheia de graça, uma “ceboleira” que vem para a Póvoa apanhar banhos quentes a conselho médico. O quadro do “Agapito”, uma lua-de-mel atribulada passada entre um sénior já entradote, Heitor Pinto- e uma jovem inocente, Vanessa Neves, obrigou o público a constantes e bem sonoras gargalhadas. Depois de um apontamento de fados de Coimbra por Hernâni Rodrigues, Francisco Bourbon, José Maria Carneiro, Virgílio Fernandes, e Abílio Couto, seguiu-se a Tuna “DinoSeniores”, da Universidade Sénior do Rotary Clube da Póvoa de Varzim. Uma exibição soberba, cheia de graça, a demonstrar o conceito de que “envelhecer não é difícil – difícil é ser-se velho! “A actuação da Tuna foi de tal forma brilhante que o público participou de forma entusiástica cantando a plenos pulmões a “Bichinha”, a apoteose final do 1º acto.

O segundo acto abriu de forma surpreendente com o quadro “ um serão no Bairro Sul”. Uma conversa animada entre famílias vizinhas, numa noite onde se cantou, se rezou, se chorou e se riu. Ali estava a Póvoa piscatória no seu melhor. Bons desempenhos de Júlia Barbosa, (a tia Sara Brêta), Manuel Reina (Zé da Pirolita), Xana Teixeira (a nossa Dores), Adélia Vareiro (Tia Ludovina), Jaime Silva (Chico Brêta) Pedro Pereira (Chico Fedorento) e Bruno Bernardo (Manel Come-Sono).Seguiu-se a actuação do “Presunto Inocente”, um duo que interpretou música urbana, a cargo dos irmãos André e Jorge Santos Silva. “Aquela Música”, um quadro a reviver os cafés-Concerto tão em moda na Póvoa no séc.-XIX. Uma soberba interpretação de Clarice Marques, acompanhada a violino por Joaquim Barros e viola por Francisco Bourbon. Um apontamento de fado de Lisboa por Alice Silva e José Maria Carneiro (Guitarra) e Francisco Bourbon (Viola), seguindo-se o quadro que retrata a comunidade piscatória poveira ligada à pesca do bacalhau. O quadro, “ A Hora da Saudade”, escrito em 1988 para a revista “Esta Póvoa que eu Amo”, nessa altura com a participação dos actores brasileiros Ary Fontoura e Lucinha Lins, foi um verdadeiro vendaval de riso. Clarice Marques (Do Alivio Marafona) foi brilhante na interpretação duma poveira que mandava recados para o marido embarcado no navio “Maria Mafalda”, a pescar bacalhau na Gronelândia., André Santos Silva imitou com perfeição um radialista, e Carlos Gonçalves (Tone Marafona) cantou com grande emoção um fado-saudade, directamente da Terra Nova, acompanhado por José Maria Carneiro, Francisco Bourbon e Joaquim Barros.
A apoteose final esteva a cargo do Rancho da Lapa que interpretou “ O Barco Poveiro”, um bonito e animado vira que retrata fielmente as gentes do mar da Póvoa.

O espectáculo terminou com uma homenagem surpresa a José de Azevedo.
Está de parabéns o “Leões da Lapa” que apresentou no Cine-Teatro Garrett um belíssimo espectáculo que retratou a Póvoa no seu melhor. Está de parabéns, José Azevedo… até à próxima.