O contador de areia

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Numa viagem à Sicília tive a oportunidade de visitar Siracusa e a ilha de Ortigia. Para além do enquadramento paradisíaco que lhe dá o mar Jónico, um braço do Mediterrâneo, voltei rapidamente aos bancos da Escola Secundária Eça de Queirós quando aprendia nas aulas de história a importância da Grécia para a nossa civilização judaico-cristã.

A Sicília pertenceu ao território que se denominou de Magna Grécia e pela sua posição geográfica, de fácil acesso pela via marítima, foi viveiro fértil para a colonização por povos de diversas etnias. Fenícios (atuais libaneses), semitas (sírios), calcidenses (gregos macedónios, como por exemplo Aristóteles), cretenses, entre outros.

É de Siracusa o maior matemático, físico e astrónomo da antiguidade clássica – Arquimedes. Para que se perceba a sua importância, os historiadores da matemática elevam-no ao pedestal maior ao lado de Isaac Newton. As suas descobertas e invenções são tão profusas que precisaríamos de uma vida inteira para as estudar com profundidade e alguns, nas quais eu me incluo, não conseguiriam absorver e explicar a complexidade dos seus escritos.

Polémicas à parte sobre a eventual influência árabe (ou eventual cópia) que possibilitou a Arquimedes tal dimensão universal, fomos desafiados pelo jornal MAIS/Semanário a inaugurarmos uma coluna sobre atualidade. Uma vez que esta coluna será escrita a quatro mãos, por mim, pelo André Tavares Moreira, pelo Ivo Maio e pelo Miguel Pinto, a primeira decisão a tomar seria qual o nome a dar a este espaço de opinião, que será contraditório, provocador e, sobretudo, livre.

Depois de alguma discussão, lembrei-me de propor “o contador de areia” por figurativamente apontar para a imensidão de temas e para a diversidade das opiniões, tantas como os grãos de areia das nossas praias, e por implicar a vontade, ainda assim, de existir alguém predisposto a proceder à sua contagem, ou seja, a opinar face à actualidade política, seja esta local, nacional ou internacional.

O Contador de Areia é um livro de Arquimedes em que ele, dirigindo-se ao rei Gelão, se propõe a determinar o número de grãos de areia que o universo pode conter, sendo este constituído pela esfera que tem o sol como centro e cujo raio é a distância entre o centro do sol e o centro da terra.

Explicando-se a razão do nome, resta-me também apontar desde já uma fragilidade que deve ser eliminada brevemente, que é o facto de não termos entre nós, contadoras de areia. E não julguem que digo isto para ser hodierno ou simpático, é uma real necessidade termos presença feminina que imponha alguma ordem nestes quatro amigos que adoram discordar sobre tudo, sobretudo ao redor de uma mesa bem servida e alargar a contextualização da realidade para um olhar menos masculino e manifestamente mais actual.