Triste fado…

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Em junho, escrevi o artigo vidas em cinzas, sobre a tragédia de Pedrogão Grande e nunca me passou sequer pela cabeça, que meses depois, voltaria a acontecer uma nova tragédia, com esta dimensão, como foi a do passado domingo.Sinto-me completamente desolada como qualquer português com coração. São tantas as perguntas, são tantas as falhas incompreensiveis, os casos de corrupção, a inércia que me revolta, mas, o que verdadeiramente, me entristece são as perdas humanas que partiram dolorosamente. É o desespero, o negro cinza, o fim de belíssimas manchas verdes, trocadas agora, por cemitérios.

Vão-se conhecendo as histórias de familias que perderam tudo, das almas grandes que a salvar outros da morte, por ela foram levados, dos que se salvaram por milagre, dos que se esconderam em casa e morreram dentro dela, dos que arriscaram, fugiram e morreram também e das histórias de uma simplicidade absoluta de gentes, que dentro de toda a desgraça que os rodeia, pedem simplesmente para ter saúde.

Para mim, os heróis são todos os que tentaram, são heróis os que tentaram   conseguiram e os que perderam tudo e os que morreram. Todos tentaram! Assim como os Bombeiros Portugueses, que se sentiram impotentes, face aos milhares de pedidos de ajuda e sem apoio, sem meios, ficaram na grande maioria dos casos, humanamente incapacitados de fazer o que quer, que fosse.

No nosso concelho perderam-se pelo menos vinte e quatro hectares de floresta. Pode ser que algumas pessoas com quem me cruzo e que lamentam tudo o que se passa no país, mas que ao mesmo tempo, anseiam o calor e o bom tempo, peço e espero que essas pessoas, parem e reflictam um pouco, sobre o que está a acontecer aos nossos! Ninguém está livre, que tais desgraças nos batam à porta, como bem vimos, infelizmente.

É tempo de pensar em conjunto, de agir em conjunto! As manifestações (sem cores partidárias e silenciosas), realizadas um pouco por todo o país, são uma forma de prestar homenagem. Enviar dinheiro está praticamente fora de questão pois, como já se sabe, por exemplo, com os apoios a Pedrogão Grande, houve desvio de dinheiro que se “perdeu” algures. Caminhamos para o que espero, ser um inverno com chuva e são centenas de pessoas que estão ainda, sem teto. Há muito a fazer. Este é o momento em que é preciso agir! O Estado falhou, não há dúvidas quanto a isso. Mas, nós como comunidade, como nação não podemos falhar!

Neste triste fado das desgraças que se abateram no nosso país, da inércia, da irresponsabilidade e da corrupção avassaladora que nos corrói por dentro, não sabendo nós, nem metade dos negócios criminosos, que grassam no nosso pais, repito-me diariamente: Ainda há esperança! Tem de haver esperança! esperança em vermos um país que aprenda com os erros do passado, um país em que a justiça actue, um país em que que os culpados sejam presos e a culpa não morra, mais uma vez, solteira…..lembram-se de Entre-os Rios? Serei demasiado sonhadora por achar que o nosso país vai mudar, estarei a ser utópica?…recuso-me a desistir perante a barbaridade!

Recuso-me a baixar os braços!! Olho o horizonte, vejo um azul límpido e sinto no rosto, uma brisa quente. Só me ocorre pensar:

“Quando a última árvore for cortada,

quando o último rio tiver secado,

quando o último peixe for pescado,

o homem vai entender que o dinheiro não se come”

Greenpeace