Uns, uma vez bombeiros… são-no para sempre… outros, são bombeiros!

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1982

José Andrade

São bombeiros, como são do clube, do grupo, da seita ou do que der jeito, até nem seja só para poder mudar o óleo do carro, ou ter acesso a uns sitios sem pagar.

E porque aquilo com que a vida nos vai presenteando, do mau e do bom, ao fumo chamamos fumo, porque é isso que vemos, sentimos, inalamos, como não há fumo sem fogo, como associado e como cidadão, o crepitar que irrompeu no seio dos Bombeiros da Real Associação, merece várias interrogações e claras explicações. É que já vimos este filme no passado. Desmentidos e provas de confiança não esclarecem o essencial, nem dão paz a quem dela se diz soldado. E, porque para haver paz, nos bombeiros, não tem necessáriamente de haver guerra, sem mais, deixo aqui um exemplo de como se podem, e devem, tratar assuntos sérios, com dignidade.

Só mais um esclarecimento. O texto aqui publico, do meu Amigo, Abel Maia, foi por ele colocado no Facebook, meio do qual não sou usuário, mas que teve a amabilidade de me fazer chegar, e com a devida vénia, reproduzo. Aos Bombeiros de Vila do Conde

Escrevo, exatamente trinta dias depois de ter cessado as minhas funções de presidente da direção da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Vila do Conde, após trinta anos de serviço cívico, gracioso e voluntário. Aprendi que o resguardo do tempo é sempre o melhor conselheiro e resisti a escrever, logo à saída, estas palavras de saudades e de saudações para que a emoção não me estragasse o verbo. Sendo a Associação, uma entidade jurídica ‘privada’, no sentido de que não é um ente público, também é verdade que cumpre escopos públicos, com a particularidade de não ser de ninguém, ser de todos por a todos servir ou poder vir a servir (assim o acaso nos leve a necessitar dos bravos soldados da paz).

Foi com este sentido de serviço público (cívico) que procurei guiar as minhas opções e decisões e que procurei difundir em todos os diretores, e foram muitos, que me acompanharam e a quem, sem exceções, agradeço penhoradamente a confiança que em mim depositaram, por que a amizade não se agradece, retribui-se. E eles sabem quão forte é essa amizade. Propositadamente, durante estes últimos trinta dias, não fui ao quartel, nem para beber um café no bar. Queria sentir o peso da saudade. Queria sentir que mudava uma página das rotinas do meu dia-a-dia. Também quis que os novos responsáveis se sentissem absolutamente soltos – era o que mais faltava se assim não fosse -, para as suas novas ações e trabalhos.

Resisti aos seus gentis convites para aparecer e fiz bem. Estou agora em condições emocionais para fazer este agradecimento público. E faço-o com gosto e cumprindo um dever. A todos os comandantes, a todos os bombeiros voluntários e profissionais, a todos os colaboradores, profissionais ou não, que serviram comigo a instituição, sem exceção, envio um abraço de amizade e uma palavra de reconhecimento. Muito se diz e escreve sobre a nobreza da vossa prestação cívica. Tudo o que se diz e escreve ficará sempre aquém da verdadeira grandeza das vossas valentias e dádivas ao próximo. A resiliência e a importância da vossa opção de vida – ser bombeiro com farda e sem farda -, quando vivida de perto, torna-se ainda mais extraordinária. Aprendi muito convosco. Obrigado. Estarei por aqui, disponível para cada um de vós, porque sei que virão por bem. Aos organismos do setor, onde realço a Federação do Porto, a Liga dos Bombeiros Portugueses e o INEM, o reconhecimento pela estreita colaboração. À Câmara Municipal de Vila do Conde, às Juntas de freguesia e às inúmeras empresas do concelho deixo o meu reconhecimento porque sempre foram colaborando com as nossas ações e necessidades. Às associações congéneres e vizinhas, onde destaco a Real Associação da Póvoa de Varzim e as associações geminadas de Ourém, Carnaxide, Faial, Pomba e Dafundo estendo este abraço de reconhecimento. Aos sócios, agradeço a confiança nas sucessivas eleições e foram algumas, esperando que tenham compreendido que fiz o que melhor sabia e pude, com o máximo respeito pelos interesses da associação, sempre tendo como farol a grandeza humana do bombeiro, que justificava o bom senso, o contacto pessoal, o saber ouvir, mesmo nos momentos em que notei algumas falhas dos homens e mulheres que serviram e servem a casa. Eu também falhei. Nada é mais importante do que realçar a dignidade do bombeiro, e a importância social do serviço que se presta. Desvalorizar o que pouco importa é ato de sabedoria. Foi assim durante 30 anos. Dignidade e elevação, foi o que vi nos bombeiros. Tudo o resto são e foram pequenos escolhos que não ficam para a história.

Já me sinto em condições de hoje ir ao bar tomar um café e dar-vos um abraço. Até já.

Obrigado a todos

P.S. Li algumas crónicas e notícias que procuraram ligar a minha saída a outros quinhentos da política. Nada mais falso. Saí no dia exato em que comemorei 30 anos de serviço. Saí porque entendi que 30 anos de serviço cívico contínuo, aqui e ali muito intenso, me dão direito a descansar um pouco. Saí porque tenho plena confiança no trabalho de quem me sucedeu. Saí porque a minha vida profissional me exige. Saí porque os lugares de eleição devem ser renovados. Saí porque sei que serei sempre bombeiro sem farda, mesmo não estando ao serviço. Saí porque sei que se um dia a Associação precisar de mim, para qualquer apoio, e eu puder, direi presente. Saí porque sou bombeiro sem farda, de alma e coração. O mais, é pura invenção.