… São Pedro com alegria…

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Foi há 61 anos que uma denominada Comissão Municipal de Turismo, já “falecida”, teve a feliz ideia de “dar à luz” as festas de São Pedro, decorria o ano de 1962. E de tal forma a ideia pegou de estaca que, entretanto, se transformaram nas Festas da Cidade. E em menos de 40 anos tornaram-se em imagem de marca ao ponto de em 1974 por deliberação camarária o dia 29 de Junho, o dia de São Pedro, ser considerado Feriado Municipal. E com fortes razões para os poveiros darem largas às suas satisfações, atirando as tristezas para trás das costas, para darem lugar às alegrias dos festejos. Quanto de improviso vem ao de cima, para envolver as festas da cidade como momentos mais altos de todo um município, desde a parte mais rural das suas freguesias, ao bulício da própria cidade. A vontade e o esforço dos poveiros não têm conhecido barreiras capazes de derrubar um bairrismo que, por vezes, até se torna excessivo ao criar divisões entre bairros e consequentemente entre as pessoas que os habitam.

As Festas de São Pedro têm também a virtude de criar poetas (ou fazedores de versos) para comporem as letras das chamadas rusgas dos bairros, a necessitarem de autores de músicas, quantas delas a tornarem-se praticamente imorredouras ao logo dos tempos. Composições artísticas que merecem uma recolha especial para enriquecer ainda mais a história da Póvoa de Varzim. Talvez seja um trabalho insano que não terá um fim desejado porque as comissões de bairros não tiveram a maçada de arquivar. Houve um período, talvez com dois anos de duração, que as rusgas dos bairros deixaram de ter atividade nas festas de São Pedro, possivelmente a acusar a falta de “calo” das pessoas na ocasião. No entanto, algo foi criado nesse vazio. Aconteceu no bairro de Nova Sintra, nessa altura o mais identificado na classe operária da comunidade poveira, ao ponto não só de ser criada a primeira (e única) Comissão de Moradores da Póvoa de Varzim, como fazendo nascer dentro dela o que fazia falta para animar a malta, como cantou o saudoso Zeca Afonso. Foi lá, nesse bairro da parte leste da cidade, que nasceu o Plano de Promoção de Atletismo, movimento popular cada vez mais viçoso, apesar de ter nascido em 1978, a caminho do meio século. Foi lá também que se realizaram as primeiras provas de ciclismo, com a chancela da Direção Geral de Desportos sediada no Porto. Foi até aí que se registaram as primeiras pedaladas de Manuel Zeferino que mais tarde ganhou altos estatutos no ciclismo nacional e internacional. Pois nesse longínquo tempo de meados de 1962, com a paragem oficial das festas de São Pedro, o bairro de Nova Sintra saiu para a rua com a sua improvisada rusga, percorrendo a cidade, para que o vazio festivo não fosse tão notado. Ao rebuscar no baú de recordações, dá-se de caras com a letra da marcha de Nova Sintra, naquele interregno das oficiais Festas de São Pedro da nossa terra. Vamos lá “desenterrar” essa Marcha do princípio da década de 60, o que para muita gente será uma revelação.

Este Bairro populoso/E orgulhoso/Da nossa Póvoa amada/Vem festejar o S. Pedro/Com folguedo/E a mocidade animada/Vem render todo o seu preito/Com preceito/Ao bom Santo Pescador/E rogar-lhe com carinho/Que lance um bocadinho/Da sua bênção de amor.

ESTRIBILHO – É Nova Sinta/Toda alegre e com afã/A mostrar a alma sã/Radiosa e festejeira/É Nova Sintra/Que vem com todo o fulgor/Festejar o protetor/Da boa gente poveira

E os pares de namorados/Enleados/Sem pensar em mais ninguém/Nas suas provas de amor/Com fervor/Misturam rezas também/Implorando ao bom Santinho/Com carinho/Que une seus corações/E as suas almas ardentes/Brilham no ar de contentes/Como a luz dos seus balões.

Agora tudo é diferente, para muito melhor. Por toda a Póvoa e seu concelho entoa no ar a Marcha de São Pedro que se tornou praticamente oficial, com música do saudoso António Gomes (Marta) e versos arrancados ao livro O Poveiro, um documento que o saudoso etnógrafo António Santos Graça deu à luz pela primeira vez no ano de 1932, e cujo estribilho serve de ex-libris às Festas da Cidade: “Festejemos neste dia/São Pedro com alegria”. E pelos tempos fora foi a alegria que sempre esteve (e está) estampada nos poveiros, por esta altura do ano, com o Feriado Municipal a selar o que de bom se tem feito nesta terra de franco desenvolvimento, apesar de alguns senões que sempre existiram e devem continuar a existir pelos tempos fora, já que “não há bela sem senão”.

Este ano, as festas de São Pedro tornaram-se ainda maiores, até porque o povo deixou de estar tolhido por qualquer epidemia para dar largas à sua satisfação. Desde o Norte ao Sul passando pela Matriz, Mariadeira, Regufe e Belém, há (e houve) festa rija para todos os gostos. Começou no dia 25 deste mês dos Santos Populares para terminar pelo julho dentro, com o dia 2 a servir de travão para este ano. Todos os gostos são satisfeitos com as festas de São Pedro: desde o desfile das crianças na abertura, ao Cortejo de Usos e Costumes a marcar o encerramento alusivo aos 50 anos de elevação a cidade, e que serve para reviver o que a Póvoa de Varzim foi, o crescimento que registou, e com todo o concelho a colaborar. Há bandas de música nos coretos e nos arruamentos, e atuações de cantores de fama, às portas do Casino (dia 29, feriado concelhio), e no Passeio Alegre (dia 2 de julho). Há prova de atletismo na manhã do dia 2. Há desfile de rusgas quer nos cinco bairros, quer, principalmente, no Estádio do Varzim (dia 1 de julho). Sem esquecer a vertente religiosa com missa e luxuosa procissão em honra do “culpado” das Festas, o São Pedro. E, para deixar toda a gente de nariz no ar, o ponto forte aponta para os espetáculos de fogo de artifício pomposamente denominados de piromusicais, um deles a encerrar as Festas. E como cereja em cima do bolo, contam-se as noitadas, com “come-e-bebes” para animar a malta, para alastrar o convívio entre gente da terra e a que acorre de fora, em elevado número.

Isto é o retrato puro das Festas de São Pedro, que estão a dar os últimos passos para este ano. E em muitos recantos do concelho já se pensa no próximo ano, porque isto de festejar o Santo Pescador nesta Póvoa que temos, torna-se hereditário, de família para família, sem desfalecimento, sempre com muito vigor.

Até para ano… se São Pedro quiser.

Opinião Luís Leal – ‘O Meu Cantinho’